Título: Tarde de cadeiras vazias no Congresso
Autor: Braga, Isabel e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 02/01/2007, O País, p. 8

Várias desculpas foram encaminhadas pelos membros da Mesa Diretora do Congresso e até mesmo pela presidente do Supremo Tribunal Federal , ministra Ellen Gracie, para justificar ausências na solenidade de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Parlamento. Muitas ausências e muitas cadeiras vazias nos salões de entrada do Congresso, no plenário e nas galerias.

Ao contrário de 2003 quando cada espaço era disputado por convidados, chefes de Estado e autoridades estrangeiras, desta vez os chefes de cerimonial do Congresso tiveram dificuldades para ocupar as cadeiras do plenário e das galerias. As credenciais dos jornalistas, confeccionadas com restrição rigorosa de acesso às dependências do Congresso, acabaram sendo esquecidas. Jornalistas do país inteiro acabaram sendo convidados a entrar para o plenário, que exibia grandes espaços vazios.

Inocêncio prefere posse de Eduardo Campos

Com tantas ausências, inclusive do primeiro-secretário Inocêncio de Oliveira (PL-PE), que preferiu prestigiar a posse do governador Eduardo Campos em Pernambuco, coube ao deputado tucano Eduardo Gomes (PSDB-TO), terceiro secretário da Mesa, a ler o termo de posse de Lula. Além dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-AL), o tucano foi o único membro da Mesa presente. Dos 594 parlamentares, apenas 107 deputados e 23 senadores prestigiaram a posse.

Segundo o cerimonial do Planalto, foram distribuídos 1.300 convites para a solenidade de posse no Congresso, mas apenas cerca de 400 convidados compareceram. Entre eles seis governadores e 80 representantes de missões estrangeiros em Brasília. Também estavam presentes 15 familiares de Lula. Dos governadores compareceram Sergio Cabral (PMDB-RJ), que chegou já quando Lula discursava; Marcelo Miranda (PMDB-TO), Wellington Fagundes (PT-PI), Binho Marques (PT-AC), Cid Gomes (PSB-CE), Valdez Gois (PDT-AP). Cid Gomes chegou depois do discurso de Lula.

A presidente do STF, Ellen Gracie, que ficou com a família em Porto Alegre, mandou o vice, Gilmar Mendes, em seu lugar. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), primeiro secretário do Congresso, se negou a participar do ato de posse, argumentando que a reeleição é ilegítima por causa do uso da maquina pública de forma criminosa.

Jorge Viana foi barrado

A demora do cerimonial em encontrar os nomes dos convidados listados acabou provocando constrangimentos na portaria, como barrar o ex-governador do Acre Jorge Viana. O cerimonial também teve dificuldades de encontrar o nome do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, parlamentar conhecido na Casa.

Os ministros sentaram-se quase todos juntos, mas alguns misturaram-se aos parlamentares. O procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, que denunciou 40 pessoas, entre empresários e políticos envolvidos no escândalo do mensalão. Sentou-se no fundo do plenário, ao lado do ministro do STF Sepúlveda Pertence.

O longo discurso de Lula derrubou alguns, como o senador Augusto Botelho (PT-RR) e a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. Os dois foram flagrados dormindo. O senador, de boca aberta. Ao final, os parlamentares petistas e convidados de Lula se levantaram e cantaram o jingle do PT: "Olê, olê, olê olá... Lulaaaa, Lulaaaa".