Título: Pouca gente e clima frio na festa popular
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 02/01/2007, O País, p. 10

O clima frio, acentuado pela chuva que caiu insistentemente, deu o tom da festa da posse do presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva. Apenas cerca de dez mil pessoas, segundo cálculos da Polícia Militar, enfrentaram o mau tempo para saudar, timidamente, o presidente ontem à tarde, na Esplanada dos Ministérios. Bem diferente da festa da posse do primeiro mandato, em 2003, que reuniu 150 mil militantes eufóricos, com direito a superprodução organizada pelo publicitário Duda Mendonça. A organização da festa de ontem esperava de 40 mil a 50 mil pessoas na Esplanada e na Praça dos Três Poderes.

O momento de maior empolgação aconteceu no fim da cerimônia de posse, quando Lula, após discursar no parlatório, atravessou a rua e foi cumprimentar o povo na Praça dos Três Poderes. Ao lado da primeira-dama, Marisa Letícia, ele recebeu tratamento de popstar: foi agarrado, beijado e posou para fotografias.

- Disse para ele: "Lula, eu te amo". E aí ele veio me perguntar se eu amava mesmo. Eu posso morrer agora. E morro realizada - derreteu-se a aposentada Eunice da Conceição Cavalcante, de 77 anos, que foi do Rio de Janeiro para Brasília especialmente para a posse.

A cerimônia de posse começou pouco antes das 16h, quando Lula desfilou em carro aberto - o Rolls-Royce presidencial - com dona Marisa da Catedral de Brasília ao Congresso Nacional. O cerimonial da Presidência chegou a cogitar o cancelamento do desfile devido à chuva, que deu uma trégua no exato momento em que o presidente chegou ao local. Empolgado, Lula chegou a chamar a atenção dos fotógrafos para a manifestação de apoio dos eleitores.

O público, que se espalhou pela Esplanada, era dividido entre militantes do PT e de partidos da base do governo, representantes de sindicatos e movimentos sociais ou simplesmente admiradores de Lula.

- Não somos do partido, a gente gosta mesmo é dele - disse Sandra Gester, de 45 anos, que viajou dois dias de Belém com a mãe e três sobrinhos.

Na Praça dos Três Poderes, um pequeno protesto feito por duas mulheres provocou tumulto em frente ao parlatório do Palácio do Planalto, antes de Lula discursar. As manifestantes foram cercadas por militantes do PT ao exibirem uma faixa com a inscrição "Seria cômico se não fosse trágico". Revoltados e aos gritos de "quer aparecer, quer aparecer", os militantes rasgaram a faixa.

- Estou aqui para protestar contra essa posse, que é corrupta - disse a médica Maria Luiza Meyer, que criticou a gestão da saúde no país.

Também não faltaram protestos contra a organização da festa. O telão montado em frente ao Congresso para que o público acompanhasse o primeiro discurso do segundo mandato de Lula só funcionou quando o presidente deixava o parlamento. Na Praça dos Três Poderes, as caixas de som falharam, impedindo que parte do público ouvisse o segundo discurso de Lula, no parlatório do Palácio do Planalto. Lula terminou sua fala aos apelos de "repete, repete".

Festa custa R$700 mil, e aliados não dividem

Paulo Ferreira, tesoureiro do PT, confirmou que a festa popular custou R$700 mil e que nenhum dos partidos aliados se manifestou a respeito de dividir a conta, como acertado anteriormente.

A multidão que lotou a fachada do Palácio da Alvorada no dia da primeira posse de Lula não voltou ao local ontem. Durante todo o dia, poucos turistas foram à residência oficial do presidente para tirar fotografia do monumento. Lula chegou ao Palácio da Alvorada por volta das 9h, vindo da outra residência oficial, a Granja do Torto, onde passou o revéillon.

Perto das 15h45m, horário em que deixou o local rumo à Esplanada dos Ministérios, cerca de 40 militantes apareceram para tentar ver o presidente. Entre o grupo estava a maranhense Rosalva Sabóia, de 60 anos, moradora de São Luís, que foi a Brasília especialmente para assistir à posse.

- Vim só para ver o Lula. É o meu sonho, nunca vi ele de perto - disse.

Pelo menos 1.400 homens do Exército, da Aeronáutica, da Polícia Militar e do Gabinete de Segurança Institucional participaram do forte esquema de segurança montado na festa da posse na Esplanada dos Ministérios. O contingente destacado para a festa foi tão grande que havia aproximadamente um segurança para cada grupo de sete pessoas. Pelos cálculos da PM, cerca de dez mil pessoas foram à Esplanada acompanhar o desfile de Lula da Catedral de Brasília ao Palácio do Planalto.

Mas, mesmo com o forte aparato, um homem de aproximadamente 30 anos de idade conseguiu invadir a pista, num trecho entre a Catedral e o Congresso, para tentar tirar uma foto de Lula. O homem foi contido antes de chegar ao Rolls-Royce sem capota, onde estavam Lula e dona Marisa. A partir daquele momento, os seguranças desceram dos carros que faziam a escolta e passaram a acompanhar o presidente a pé. As pistas entre a Catedral, o Congresso e o Palácio do Planalto estavam isoladas por grades de ferro.

Policiais militares também se alinharam ao longo do alambrado para impedir que a multidão invadisse a pista. Na festa da primeira posse de Lula, em 2003, vários manifestantes burlaram a segurança e um deles chegou no Rolls-Royce e até agarrou o presidente pelo pescoço. Desta vez, em número bem menor, a multidão se contentou em correr ao lado do alambrado. Não houve registro de brigas ou confusões. Ao longo do dia, a Polícia Militar contabilizou apenas uma tentativa de furto. O ladrão foi preso momentos depois do roubo.

- Está muito tranqüilo, a manifestação é pacífica. Não tivemos problemas - afirmou o coronel da PM José Wilame Matias, um dos coordenadores da segurança na Esplanada.

O Gabinete de Segurança Institucional montou um forte esquema de segurança. Atiradores de elite ocuparam posições estratégicas no alto dos prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do Ministério da Justiça, entre outros locais. Os atiradores têm a missão de neutralizar eventuais ataques à comitiva presidencial de grupos infiltrados na multidão ou de franco-atiradores em escondidos em prédios por onde passaria o cortejo presidencial.

A Força Aérea Brasileira também fechou o espaço aéreo na Esplanada. Quatro aviões e dois helicópteros foram destacados para fazer intervenções emergenciais, caso fosse necessário.