Título: 'A política terá que ser ética, ou não será política'
Autor:
Fonte: O Globo, 02/01/2007, O País, p. 16

Principais trechos do discurso do tucano Aécio Neves, empossado ontem para seu segundo mandato como governador de Minas:

Mineiros de todas as partes deste estado.

Ao reafirmar-se a vontade do povo de Minas Gerais pelo voto livre e direto, aqui compareço para a cerimônia de nova investidura, nesta Casa da legítima representação dos mineiros.

E o faço para confirmar publicamente cada um dos compromissos que assumi, na longa e emblemática caminhada que fizemos pelo nosso estado.

(...) Os conhecedores da obra aristotélica não distinguem entre os livros que tratam da ética e os que tratam da política.

Em seu incontestável raciocínio, a política terá que ser ética, ou não será política; e a ética necessita da administração política da sociedade, para que seu exercício encontre o apoio nas leis do Estado.

Assim, sem que se necessitem tratados extensos para definir os mineiros, somos aqui, dos povoados mais pobres às cidades mais prósperas e cultas, seres políticos.

Em Minas sonhamos a política. Não a política pela política apenas. Mas a política que é instrumento de transformação e avanço.

(...) Aqui, neste momento solene, não celebro apenas o passado, nem as possibilidades do futuro: comprometo-me com o presente.

(...) Sem o sentimento de independência, não há ânimo para o trabalho duro que a prosperidade coletiva exige, e sem a autonomia econômica, é muito difícil conquistar e preservar a soberania política.

Em nossa História não faltaram grandes homens públicos que combinaram a razão política com o compromisso e com o desenvolvimento. (...)

Marcos fundamentais ao desenvolvimento de Minas foram edificados com inteligência e com muita ousadia.

Mas, um homem público para ter a dimensão da sua missão não pode apenas ser um exitoso administrador.

É preciso que ele encarne os sonhos e as esperanças de sua gente.

É preciso que o seu povo nele se reconheça e nele confie.

(...) Em 2002, ao iniciarmos o nosso governo, entre as inúmeras preocupações que me ocupavam, uma era prioritária: era preciso diminuir distâncias.

Diminuir a distância entre o governo e a população, através de um aumento significativo dos investimentos nas áreas essenciais: educação, saúde e segurança.

Diminuir a distância entre as diversas regiões de Minas, estimulando o desenvolvimento de um Estado mais solidário.

Diminuir as diferenças entre as pessoas, criando e democratizando as oportunidades.

(...) Para isso, era imprescindível que reorganizássemos a máquina administrativa, passo fundamental para o desejado salto de qualidade dos serviços sob a guarda do estado.

As medidas que tomamos, para orgulho dos mineiros, são hoje reconhecidas como referenciais de boa gestão no Brasil.

(...) Nesta nova investidura do cargo, não farei promessas, jamais as fiz. Reafirmo, no entanto, cada um dos compromissos que assumi com o nosso povo, debatendo nas ruas e com a sociedade organizada.

(...) Saberemos respeitá-los. Saberemos cumpri-los. E lutaremos, com todas as nossas forças, para fazê-los realidade transformadora.

Nenhuma obra é fruto do esforço ou trabalho de um só homem.

(...) Procurei, desde o início, cercar-me de auxiliares de reconhecida competência e de reconhecida probidade para a gestão da coisa pública.

(...) Durante quatro anos trabalhamos com destemor e coragem e criamos as bases para a construção de uma nova realidade em Minas.

Com o "Choque de Gestão", ao se encerrar o segundo ano de nosso mandato, conseguimos equilibrar as receitas e as despesas, alcançando o déficit zero.

(...) Foi possível reduzir as despesas com a máquina pública e dar prioridade à recuperação da nossa capacidade de investimentos. Gastar menos com o governo para gastar mais com a população foi o nosso lema. Nossa obstinação.

E aqui devo uma palavra muita clara de profundo e penhorado agradecimento a essa Casa, matriz das mais importantes mudanças que ocorreram em Minas Gerais, companheira solidária e atenta, certamente grande responsável pelas transformações que passaram a ocorrer no nosso Estado.

Além de fazermos juntos o crescimento das receitas próprias, sem aumento da carga tributária, reduzimos a dependência com relação ao governo federal.

(...) Em uma demonstração inequívoca da eficiência do trabalho de nossa equipe, conseguimos realizar 91% do orçamento dos investimentos autorizados, com recursos próprios, enquanto a média brasileira de execução desta rubrica não chegou ao 50%.

(...) Apesar de termos reduzido o ICMS incidente sobre 152 produtos de consumo popular, o crescimento na arrecadação desse tributo foi de 18,3% em 2005, enquanto no Sudeste a variação foi de 11.3% e, no Brasil, de 11.9%. Mais uma vez falo de eficiência na gestão da coisa pública.

Os investimentos, com recursos provenientes de fontes ordinárias, subiram de R$283 milhões em 2003, para R$1, 4 bilhão em 2005.

Em todos os setores da administração os investimentos se multiplicaram.

Na Saúde, cresceram de 330 milhões para 775 milhões; na Educação, de 56 milhões para 227 milhões; na Segurança, de 20 para 247 milhões, nos Transportes, de 259 para 712 milhões.

(...) Os resultados aí estão:

O PIB de Minas, em 2005, foi 4,7%, o dobro do obtido pelo Brasil. Alcançamos a melhor posição da década em exportações. Geramos cerca de 700 mil empregos com carteira assinada. Atraímos cerca de R$100 bilhões em novos investimentos. E alcançamos resultados emblemáticos no campo social: caiu substancialmente em Minas a mortalidade materno-infantil; aumentamos a cobertura da assistência preventiva à saúde e diminuímos as internações hospitalares desnecessárias.

Fomos o primeiro estado brasileiro a implantar o ensino fundamental de nove anos e a distribuir livros didáticos gratuitos ao ensino médio.

Depois de uma década de crescimento vertiginoso, conseguimos conter a grave onda de violência e estão em queda os principais indicadores de criminalidade violenta nas principais regiões do estado.

Fizemos, senhoras e senhores, mais do que muitos imaginavam possível. (...) Nosso olhar atento deve estar sempre voltado não para os obstáculos superados, mas para o que ainda falta fazer. E muito nos falta ainda.

Sempre nos preocupamos com o Brasil como um todo. Não nos arrogamos o monopólio do sentimento da Pátria. Mas nos orgulhamos de nosso profundo sentimento de fraternidade e solidariedade para com todos os brasileiros.

(...) Minas, senhoras e senhores, jamais faltará ao Brasil, naquilo que realmente interessa à construção do nosso futuro comum.

Da mesma forma com que sempre seremos solidários ao país no enfrentamento dos graves problemas coletivos, em especial no campo social, Minas também saberá sempre cobrar responsabilidades e decisões pautadas pelo compromisso com o bem comum.

E aqui, peço licença, mais uma vez, para debruçar-me sobre o que, ao meu ver, é o ponto crucial dessa nova jornada que se inicia.

Não haverá crescimento verdadeiro; não haverá desenvolvimento consolidado; não haverá democracia plena enquanto não refundarmos a federação e os princípios norteadores da República brasileira.

Os avanços que o país precisa não acontecerão; não alcançaremos a justiça social que todos almejamos, enquanto não tivermos a coragem de desconcentrar recursos.

Enquanto não houver autonomia administrativa para estados e municípios e justiça tributária.

Este momento de recomeço, senhoras e senhores, exige de cada um de nós, que temos responsabilidade pública, maturidade.

Mais que maturidade: solidariedade. E grandeza para pensar o país e o futuro.

(...) Sinto, sinceramente, que estamos, hoje, muito mais preparados para enfrentar os desafios e vencê-los, com determinação, soma de esforços e trabalho coletivo, sempre em parceria com essa que é Casa dos mineiros.

Agradeço aos demais Poderes pela cooperação e relevante contribuição que deram nas questões mais decisivas ao processo de recuperação progressiva do estado.

Ao Parlamento; ao Judiciário, ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público também renovo, em nome do estado, nosso desejo de trabalhar em harmonia, mas com a imprescindível independência que balizam as relações institucionais entre os Poderes.

Senhoras e senhores,

Minas está pronta para um novo ciclo de desenvolvimento.

Minas tem rumo.

Unidade.

Valores que não perecem com o tempo.

Guardamos, dentro e fundo, todos eles, os valores dos nossos heróis e também dos anônimos que fizeram e fazem a nossa história, que professaram a justiça, a paz, a liberdade e a prosperidade.

Cada geração, senhoras e senhores, tem o seu compromisso com a história.

O nosso maior compromisso, entre tantos, talvez seja o de demonstrar que é possível trabalhar com generosidade e despreendimento pelo bem comum.

Que é possível aliar responsabilidade e ousadia.

Que é possível somar razão e sensibilidade.

Que vale a pena enfrentar obstáculos e incompreensões por amor a Minas e aos mineiros.

Senhor presidente,

Senhoras e senhores,

A generosidade da nossa gente me trouxe a esta Casa, há quatro anos atrás, na condição de governador eleito de Minas Gerais.

Se viver esta experiência uma vez já é definitivamente um marco de honra na biografia de qualquer homem, viver este momento pela segunda vez faz com que a emoção se apodere de meu coração neste instante, de uma forma única, indescritível e incomparável...

Manifesto o meu reconhecimento aos meus familiares que, no passado e no presente nunca me faltaram.

Manifesto o meu reconhecimento aos meus companheiros de sonhos e travessias.

Rogo a Deus que não me deixe faltar forças para enfrentar as adversidades e corresponder às expectativas de milhares de mineiros de todas as regiões, das nossas muitas Minas.

Com eles, os mineiros, continuaremos a sonhar os mesmos sonhos.

Sonhos que atravessam o tempo e, aos poucos, vão se tornando realidade.

Com os mineiros, dividiremos decisões, responsabilidades e méritos.

Viveremos, em plenitude, a busca de uma sociedade mais justa e igual.

Com os mineiros, construiremos o nosso destino e continuaremos escrevendo a nossa história.

Simbolicamente, neste momento, estendo a mão a cada um dos mineiros em todos os cantos deste estado para que juntos, lado a lado, nos coloquemos novamente a caminho na busca e construção da Minas com que tantos sonharam no passado e com que tantos sonham no presente.

A Minas da Justiça. A Minas das oportunidades. A Minas da liberdade. Que Deus nos ilumine a todos. Muito obrigado!!!