Título: Lula a Aldo e Chinaglia: não quer brincadeira
Autor: Lima, Maria e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/01/2007, O País, p. 3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva interveio pessoalmente ontem na sucessão da Câmara. Teve encontros separados, primeiro com o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), e depois com o presidente da Câmara e candidato à reeleição, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Lula, segundo interlocutores, quis saber como estava a situação e disse que "não quer brincadeira" na disputa, reafirmando o discurso de que é importante a base estar unida e que não pode haver surpresas, como uma derrota. Mas assessores negam que Lula tenha pedido para algum dos candidatos desistir.

Principal promessa de apoio da candidatura de Chinaglia, o PMDB deu uma guinada ontem na direção da candidatura à reeleição de Aldo Rebelo. O presidente do partido, Michel Temer (SP), foi ao encontro de Aldo e propôs: se ele produzir um documento garantindo apoio dos partidos aliados ao PMDB para a presidência da Casa em 2009, o mesmo acordo, proposto ao PT há três semanas, ainda não ratificado pela bancada, pode ser anulado.

- Vou reunir a bancada e decidir no voto que caminho vamos tomar (apoiar Aldo ou Chinaglia) - disse Temer ao sair do encontro com Aldo.

PFL, PP e PSDB não aceitam dar cheque em branco aos peemedebistas, mas concordam que o PSB e o PCdoB assinem o acordo em favor de Aldo. Temer levaria os dois documentos para que a bancada decida, dia 10, quem apoiar. Para aliados de Aldo, é o naufrágio da candidatura Chinaglia.

- Isso mostra que a candidatura do Aldo está crescendo. O PFL não pode assinar um acordo desses porque o PMDB não respeitou o regimento que dá a maioria ao PFL no Senado, para disputar lá a presidência. Mas respeita se o PSB e o PCdoB assinarem. O Aldo, como presidente da instituição, também não deve assinar - ponderou o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), do núcleo da campanha pela reeleição.

- O Michel Temer acha que a minha candidatura pode ser representativa da Casa. O meu lema agora é o do corneteiro de Pirajá: o toque de avançar a cavalaria - disse Aldo.

Chinaglia desafiou Aldo a participar de uma prévia na base para que se tenha um candidato único. O desafio de Chinaglia contrariou a recomendação do presidente Lula, que, segundo o próprio ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, defendeu que a candidatura da base governista deveria ter o apoio amplo da Câmara, inclusive dos partidos de oposição.

- Eu proponho e estou disposto, no esforço de ter uma candidatura única, a me submeter a uma reunião ampla ou prévia como mecanismo límpido de escolha - provocou Chinaglia: - E acho que ganho a prévia.

Logo depois do encontro de Aldo com Temer, o líder petista visitou o presidente do PMDB e propôs, além do apoio a uma candidatura peemedebista em 2009, abrir mão da segunda escolha na Mesa a que o PT tem direito para o PMDB já na legislatura atual. Chinaglia ironizou a proposta de Aldo de também se comprometer com o PMDB em 2009:

- Esse é um acordo intransferível porque é um acordo entre as duas maiores bancadas, que só o PT e o PMDB podem fazer.