Título: Em 4 anos, mil servidores demitidos
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 04/01/2007, O País, p. 4

Mais de mil servidores federais foram demitidos nos últimos quatro anos por envolvimento em irregularidades, revela relatório interno da Controladoria Geral da União (CGU) encaminhado na última semana de dezembro à Casa Civil, ao qual O GLOBO teve acesso. Segundo o documento - uma espécie de balanço das ações da CGU pedido pela ministra Dilma Rousseff - foram exonerados 973 funcionários de carreira e 76 ocupantes de cargos comissionados. O órgão informou ainda que 76 servidores tiveram suas aposentadorias cassadas após a conclusão de investigações.

Segundo o relatório, os servidores foram flagrados em investigações administrativas abertas pela própria controladoria ou iniciadas após o estouro de escândalos como o mensalão e as máfias dos vampiros e dos sanguessugas. A maioria, no entanto, atuava em atividades de fiscalização de órgãos como a Receita Federal e o INSS, e foram apanhados recebendo propina em troca de vantagens. Denunciados à Justiça comum, poucos foram punidos até aqui.

Pelo menos 50 do alto escalão demitidos

Há pelo menos 50 casos de dirigentes de alto escalão demitidos por justa causa, entre eles os ex-diretores dos Correios Eduardo Medeiros e Antônio Osório. Os inquéritos concluíram que eles praticaram atos de improbidade administrativa, como dispensas indevidas de licitações, prorrogação ilegal de contratos e lesão aos cofres públicos por revisões de contratos da estatal com fornecedores privados. Em todos os casos de exoneração, as defesas dos suspeitos não convenceram os auditores da controladoria.

O controlador-geral, Jorge Hage, que ainda não sabe se continua, disse que o saldo de sua gestão é muito positivo:

- Fechamos diversos ralos de corrupção. E isso é irreversível, quaisquer que sejam os próximos governos.

Outras dezenas de investigações devem culminar em novas demissões. Entre os investigados, está o diretor financeiro da Infraero, Adenauer Figueira Nunes, suspeito de ter participado de operações que teriam beneficiado a Assurê Administração e Corretagem de Seguro em transações de resseguro. Informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) repassadas à CGU indicam que ele movimentou grandes quantias em dinheiro vivo. O inquérito de Adenauer, no entanto, ainda não foi concluído.

O Ibama e o Ministério do Trabalho também estão na mira da CGU. São investigados administrativamente, por exemplo, 56 auditores fiscais e agentes administrativos presos na operação Paralelo 251, da Polícia Federal, em abril passado. Acusados de fraudes em rescisões de contrato de trabalhadores, alguns possuíam bens incompatíveis com a renda, como apartamentos de até R$1 milhão na orla da Barra. Eles aguardam julgamento em liberdade.