Título: Ataque partidário
Autor:
Fonte: O Globo, 04/01/2007, O Globo, p. 6

Qualquer presidente da República assume com o poder de, direta e indiretamente, nomear 20 mil funcionários. Equivale a fazer surgir do zero, à base de canetadas, uma grande empresa. É em cima dessa espécie de curral de empregos públicos, e mais o acesso ao Orçamento, que se costumam tecer as alianças políitico-partidárias. Um dos resultados dessa distorção é a extensa crônica de escândalos de desvios do dinheiro público. No governo Lula - pelo menos, no primeiro mandato -, houve uma peculiaridade: a ocupação majoritária de espaços na máquina por militantes petistas, para desgosto dos aliados. A esse movimento de ocupação deu-se o nome de aparelhamento. De postos bem situados na máquina, militantes podem manejar recursos públicos - e não apenas financeiros - para atingir diversos objetivos. Dos menos aos mais nobres, e sempre longe do controle do contribuinte.

O aparelhamento de natureza ideológica mais visível ocorre no Incra e no Ministério do Desenvolvimento Agrário, cedidos ao MST e a organizações similares.

Quando o Estado fica a serviço de um partido, de um grupo, de uma visão ideológica, a probabilidade de ocorrerem distorções é imensa. Se o profissionalismo fosse a regra, a Visanet não teria participado - por decisão de pelo menos um diretor do Banco do Brasil, o militante do PT Henrique Pizzolato - de uma operação de remessa de dinheiro público para o mensalão, como acusa o relatório da CPI dos Correios.

Mesmo uma estatal como a Petrobras, com ações em Bolsas no exterior, vasculhada por auditores externos, não parece escapar dos efeitos do aparelhamento. Prova é a generosidade militante com que a empresa apoiou ONGs petistas.

Por uma série de razões, o setor público tem uma longa história de ineficiência. Servidores estáveis costumam atender mal ao público, não se aperfeiçoam. O aparelhamento degrada ainda mais essa máquina. Além de ineficiente, ela passa a funcionar em prol de facções. Financiada, como sempre, por toda a sociedade. Esta, sim, é uma forma perversa de privatização.