Título: 'Ele não impediu. Não tomou iniciativa'
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 05/01/2007, O País, p. 4

Dirigente do PT e da corrente Democracia Socialista, à esquerda da direção partidária, o deputado estadual Raul Pont (RS) não gostou da volta de Ricardo Berzoini à presidência do partido. Segundo ele, Berzoini não foi indiciado nas investigações da Polícia Federal sobre o dossiê contra tucanos, mas não fez nada para barrar a ação dos "aloprados": "A volta dele não é boa", disse.

O senhor considera que Berzoini não deveria ter voltado à presidência do PT?

RAUL PONT: Tínhamos expectativa de que deveria permanecer o Marco Aurélio (Garcia) até o congresso (3º Congresso Nacional do PT, marcado para julho). O Marco Aurélio, o (ministro) Tarso (Genro), enfim, o governo todo, prestigiaram o retorno dele (Berzoini). Era uma licença, mas uma licença que não tinha sido muito espontânea. Tinha sido fruto da crise vivida pelo caso do dossiê em São Paulo.

Mas ele não foi indiciado pela PF.

PONT: Mesmo absolvido, ou mesmo não indiciado, ele declarou em mais de uma oportunidade que não foi responsável direto. Mas não impediu, não tomou iniciativa. Como presidente do partido, deveria ter impedido isso, e não o fez. Essa foi a razão de ninguém acusá-lo na executiva, na direção do partido, de responsabilidade direta naquele processo. Mas, sim, pela omissão de não ter tomado a medida que cabia, que era necessária naquele momento.

O senhor concorda com a avaliação do dirigente petista Valter Pomar de que a volta de Berzoini é ruim para o PT?

PONT: É lógico que a volta dele, é isso o que diz o Valter, não é boa. Mais uma vez reforça a imagem de que no PT as coisas acontecem, e não são responsabilizadas as pessoas que tiveram algum grau de responsabilidade nos acontecimentos. É ruim isso. Mas foi prestigiado pelo presidente atual, com a concordância dele, do ministro das Relações Institucionais e, diante da legalidade estatutária, já que estava licenciado, teve que acatar, reconhecer o retorno.

Caberia rediscussão na executiva do PT?

PONT: Caberia, mas quem deve fazer isso é a executiva. Assim como foi ela que assumiu a responsabilidade de licenciamento, que acatou o licenciamento, deveria também avaliar isso. Pelo que estou informado, a maioria da executiva está concordando com o retorno dele. Isso significa que está legitimando ou garantindo a continuidade, a legalidade do retorno.

Como o PT deve se portar no segundo mandato do presidente Lula?

PONT: O que o PT tem que fazer é realizar seu congresso e pressionar o governo para cumprir o que foi definido do ponto de vista programático. O próprio Lula esteve no diretório nacional para reafirmar a dívida com o povo, a dívida com a população que o reelegeu. A melhor forma de pagar essa dívida é criar mecanismos de participação direta da população no governo. Ter uma outra política de juros, uma política mais ofensiva de obras públicas e puxar setores estratégicos que o país necessita.