Título: Urgência na Saúde
Autor:
Fonte: O Globo, 05/01/2007, Opinião, p. 6

Os gastos com a saúde estão entre os principais itens de despesas do setor público. É natural que assim seja em um país como o Brasil, onde parcela expressiva da população não tem renda suficiente para custear atendimento médico ou hospitalar. Com a implantação do Sistema Único de saúde (SUS), o custeio da rede hospitalar e dos diversos programas de saúde preventiva passou a ser feito basicamente por verbas federais, repassadas aos gestores municipais e estaduais.

Era de se esperar que essa conjugação de esforços redundasse em maior eficiência do sistema, mas o que se tem visto na prática é uma situação caótica, particularmente no Rio de Janeiro, que já foi até objeto de uma intervenção federal - pouco frutífera, reconheça-se.

Essa questão da saúde foi um dos carros-chefes da campanha do governador Sérgio Cabral, mas provavelmente ele não acreditava que poderia encontrar um quadro tão degradante como o observado na sua primeira visita, depois de empossado, a um hospital estadual.

O que o governador Sérgio Cabral constatou com seus próprios olhos no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, Zona Oeste do Rio, não é específico daquela unidade hospitalar. Com mais ou menos gravidade, trata-se de uma realidade comum ao sistema de saúde sob responsabilidade do setor público em quase toda a região metropolitana.

Não é um problema fácil de ser resolvido, pois envolve principalmente deficiências gerenciais que caracterizam a administração estadual em vários setores. E nesse caso um círculo vicioso terá de ser quebrado, pois os administradores alegam que não podem gerir eficientemente qualquer serviço público em um ambiente de permanente escassez de recursos.

No entanto, a experiência mostra que a liberação de recursos simplesmente não é a solução, haja vista que houve aumento dos repasses para o SUS nos últimos anos. Um diagnóstico mais profundo terá de ser feito, para se atacar os pontos de maior deficiência gerencial, e então será possível quantificar a demanda de recursos necessária para que o sistema funcione adequadamente. Só que isso precisa ser feito com urgência.