Título: Não recuar
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Fonte: O Globo, 05/01/2007, Opinião, p. 6

A referência feita pelo presidente Lula, no dia da posse, às ações "terroristas" de bandidos no Rio e o compromisso assumido por ele de ajudar o governador Sérgio Cabral, por sua vez declaradamente aberto a alianças com os governos federal e de outros estados na repressão à criminalidade, criaram um clima positivo, de esperança, em torno de uma questão que só tem causado pessimismo e tristeza. A empreitada, porém, é complexa e longa. E discursos e compromissos verbais são apenas o início de um penoso trabalho.

Funciona como um alerta a todos, inclusive às autoridades, mais um vergonhoso assalto a turistas estrangeiros recém-chegados ao Rio, pelo Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, o Galeão. Depois de ingleses, chineses e tchecos, chegou a vez de alemães, croatas e de um austríaco. O assalto pode causar frustração, por ter ocorrido quando entrava em vigor um sistema de policiamento mais ostensivo da PM nas principais vias de acesso à cidade. Em vez de abater o ânimo da polícia, no entanto, o crime deve servir para correções e aprimoramentos.

O animador, passados poucos dias da posse, é o entendimento entre Brasília, Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória de que a missão de derrotar o banditismo é do Estado brasileiro como um todo, por cima de partidos e divergências ideológicas. O inimigo é comum e tem de ser vencido.

Os passos iniciais são conhecidos; alguns até já foram dados em outras regiões: a constituição de gabinetes integrados de segurança, em que as diversas polícias - Federais, incluindo a Rodoviária; Militar, Civil e Guarda Municipal - se articulam entre si, com as Forças Armadas, e, junto com o Ministério Público e a Justiça, criam uma rotina de trabalho compartilhado. É um método aprovado onde existe, mas que requer tempo e dedicação para funcionar como se deseja.

O governador fluminense negociou a vinda da Força Nacional. Como primeira tarefa, ela atuará nas fronteiras, por onde entram e saem drogas e armas. Também pediu a ajuda das Forças Armadas. É um passo correto, e que precisa obedecer a um cuidadoso plano de ação.

Por enquanto, o essencial foi alcançado: a decisão política de fazer. O quanto antes é preciso se passar para a fase prática e trabalhosa do planejamento, da integração dos serviços de informação etc. É provável que resultados concretos demorem. O essencial é não haver recuos na vontade de ganhar uma guerra decisiva.