Título: Comprando da Ásia como nunca
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 05/01/2007, Economia, p. 19

Pela primeira vez na história do comércio exterior brasileiro, a ásia passou, em 2006, a liderar o ranking de mercados fornecedores de produtos para o Brasil, ganhando da União Européia (UE) e dos Estados Unidos. E não se trata de invasão de bens de consumo. O Brasil está comprando da região mais semicondutores, componentes para o setor eletroeletrônico, peças de telefones celulares e automóveis.

- É o empresário brasileiro buscando preços menores, produtos mais competitivos e que tenham boa qualidade - disse ao GLOBO o secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), diferentes fabricantes americanos e europeus de componentes migraram para a ásia, deslocando, com eles, seus clientes. Esse remanejamento de fornecedores, principalmente para o Leste e o Sudeste da ásia, deve-se ao fato de o Brasil não produzir esses insumos.

- Certamente, houve aumento das importações de bens de consumo, como eletroeletrônicos. Mas a ásia passou a ser um importante fornecedor mundial de semicondutores e componentes - explicou o diretor de Relações Internacionais da Abinee, Humberto Barbato.

China vendeu 49,2% a mais para o Brasil

O fato é que o aumento de 35,6% das importações do continente asiático em 2006 provocou uma reviravolta nos números. A balança do Brasil com a região saiu de um superávit de US$1,6 bilhão em 2005 para um déficit de US$2 bilhões no ano passado. As compras da ásia somaram US$22,887 bilhões no ano passado, dos quais US$7,989 bilhões negociados com a China. Já as importações provenientes da União Européia ficaram em US$20,121 bilhões e as dos Estados Unidos, em US$14,850 bilhões.

O ingresso de produtos chineses cresceu 49,2%, o que representa uma expressiva queda do superávit com aquele país - de US$1,3 bilhão, em 2005, para US$410 milhões, no ano passado.

O secretário de Comércio Exterior assegurou que o aumento das importações, especialmente do Sudeste asiático, não tem como origem a concorrência desleal. Mas afirmou que, se algum empresário se sentir prejudicado, deve procurar o Departamento de Defesa Comercial. Meziat lembrou que já existem processos contra a China envolvendo, entre outros exemplos, armações para óculos e escovas de cabelo.

Pelos dados do Ministério do Desenvolvimento, as importações de circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos só perderam para petróleo em bruto na pauta do ano passado de gastos brasileiros no exterior. Foram importados cerca de US$2,740 bilhões, e os países fornecedores principais, pela ordem, são Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura, China e Malásia. Em terceiro lugar, destacaram-se as compras de componentes de aparelhos de telefonia celular, no valor de US$2,690 bilhões, grande parte de fabricantes chineses.

Segundo técnicos da área de comércio exterior do governo, a valorização do real frente ao dólar não influenciou o crescimento das compras de componentes e semicondutores, tendo em vista que o Brasil não produz esses itens.

Governo quer trazer fornecedores

No entanto, essas fontes admitem que, no caso das importações de bens de consumo - que tiveram um acréscimo de 42,6% em 2006 sobre o ano anterior - o câmbio valorizado tem peso significativo, pois torna mais baratas as aquisições que são feitas no exterior.

Conforme a Abinee, as importações de produtos eletrônicos cresceram em torno de 24% no ano passado, frente ao total importado em 2005. Os semicondutores - fundamentais para as indústrias de informática e eletroeletrônica - foram os principais itens comprados no exterior, totalizando US$3,4 bilhões. Esta é a principal razão pela qual o governo preparou um conjunto de medidas, com isenções de tributos e facilidades no financiamento, para atrair fornecedores desse tipo de material para o Brasil.