Título: Governo quer evitar novos aumentos abusivos do álcool durante entressafra
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 05/01/2007, Economia, p. 20

Os reajustes no preço do álcool verificados nos últimos dias acenderam uma luz amarela no Palácio do Planalto. Preocupado em evitar que se repita o que aconteceu em 2006, quando o combustível ficou até 28% mais caro na entressafra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou ontem o ministro da Agricultura, Luiz Carlos Guedes Pinto, para uma reunião de emergência. O ministro garantiu que o governo tem instrumentos para inibir altas abusivas de preços, entre os quais a redução da mistura do álcool anidro à gasolina, hoje em 23%.

Lula quer monitorar preços para evitar alta abusiva

A principal preocupação do governo é com as oscilações de preços ocorridas no fim de 2006, embora pequenos reajustes sejam considerados normais na entressafra. Por isso, Lula determinou a Guedes que monitore o mercado, evitando aborrecimentos ao consumidor.

No início de 2006, a resposta das autoridades foi a redução, de 25% para 20%, da parcela de álcool anidro à gasolina, com o objetivo de expandir a oferta do combustível e forçar a queda do preço. Há cerca de dois meses, a mistura aumentou para 23%, o que permitiu a melhora do preço do álcool para o produtor.

- Esperamos que as cotações se mantenham conservadoras até meados de abril, quando começa a nova safra - disse o ministro da Agricultura.

Segundo Guedes, os estoques de álcool no Centro-Sul estão em níveis bastante confortáveis. Por isso, não há justificativa para reajustes elevados:

- Isso nos permite afirmar que temos um volume muito confortável para atender o consumo, sem qualquer tensão no abastecimento.

De acordo com o Ministério da Agricultura, a moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul terminou no início de dezembro e alcançou um volume recorde de 15,86 bilhões de litros. Desse total, 12,64 bilhões de litros se destinam ao mercado interno e 3,01 bilhões, às exportações. Haverá ainda uma produção antecipada de 400 milhões de litros da temporada 2007/08.

Carros bicombustível e caos aéreo colaboraram para alta

Para Guedes, os aumentos registrados até o momento foram "um pouco elevados", mas estão dentro dos parâmetros do mercado. Ele lembrou que, como qualquer outro produto de origem agrícola, o valor do álcool incorpora os custos de carregamento do estoque e está sujeito a sazonalidade.

Guedes acrescentou que os reajustes foram provocados por vários fatores, entre eles o fato de a cotação do álcool estar relativamente favorável comparada a da gasolina (hoje, em São Paulo, na proporção de 52,47%). Ele citou, ainda, o aumento da demanda decorrente do período de festas e férias escolares, o tamanho da frota de veículos flex (que permitem o uso de álcool e gasolina), de 2,5 milhões de veículos, e o aumento do transporte rodoviário em substituição ao aéreo.