Título: BNDES financiará multinacionais verde-amarelas
Autor: França, Mirelle
Fonte: O Globo, 05/01/2007, Economia, p. 22

Um dos principais instrumentos do governo para acelerar o crescimento do país, o bndes resgatou, nos primeiros quatro anos da gestão Lula, sua missão original de agente ativo na busca pelo desenvolvimento, deixando para trás, de vez, a postura paternalista de outras épocas. Este foi o balanço feito pelo presidente do banco, Demian Fiocca, no fim de 2006. Ele reconhece, porém, que a expansão tímida da economia nos últimos dois anos, aliada à valorização do dólar, fez com que o desempenho do bndes ficasse aquém do esperado. Mas mesmo diante da expectativa de amargar três anos seguidos sem atingir a meta de desembolsos - que deverão somar R$50 bilhões em 2006, contra estimativa inicial de R$60 bilhões - a atual administração está confiante.

Para Fiocca, os impactos da queda da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP, hoje em 6,5% ao ano) e dos spreads internos (diferença entre o que o bndes paga para captar e o que cobra para emprestar), assim como do aumento do volume aprovado em 2006 (de R$61,3 bilhões até novembro), aparecerão já em 2007. Ontem, por exemplo, o banco anunciou a aprovação de crédito de R$1,12 bilhão para o Grupo ALL, montante recorde para o setor de logística.

Para desempenhar bem seu papel dentro do projeto desenvolvimentista do governo, o banco vai apostar na internacionalização das empresas brasileiras e na simplificação dos procedimentos internos. Principais trechos da entrevista:

RESGATE: "O bndes, no primeiro governo Lula, voltou a se aproximar da sua missão, que é fomentar o desenvolvimento. Durante a década de 90 e no início da atual, havia a idéia de que as políticas públicas são distorções e de que a ausência delas é que contribui para o desenvolvimento. O banco recuperou a postura de entender que sua ação é boa para a economia e teve a chance de reconquistar sua reputação".

INTERNACIONALIZAÇÃO: "O Brasil está alcançando certo estágio de internacionalização. Começamos a ter multinacionais brasileiras e o governo entendeu que isso é desejável. Na aquisição da Inco pela Vale, por exemplo, a empresa conseguiu os recursos iniciais no mercado externo e depois passou a se refinanciar a prazos mais longos aqui dentro, emitindo debêntures. Dentro da nossa política de fomentar o mercado de capitais e a internacionalização, entramos nas debêntures, no valor de R$825 milhões".

OBSTÁCULOS: "Se a economia brasileira tivesse crescido mais em 2005 e 2006, teria havido mais demanda por recursos do banco. O que também pode explicar a pouca demanda é o fato de que existe uma parte da indústria que sofreu o efeito da apreciação da taxa de câmbio".

SOCIAL: "Tivemos aumento importante nos desembolsos na área social de 2005 para 2006 (de 65% até novembro, para R$1,1 bilhão). Mas, como o segmento envolve projetos do setor público, eles estão sujeitos ao contingenciamento de crédito da Lei de Responsabilidade Fiscal. O desempenho (na área) depende muito pouco da prioridade do bndes e mais do andamento das contas fiscais".

PATERNALISMO: "Demonstramos que é possível ter uma postura de compromisso com o desenvolvimento e com políticas ativas, sem fazer paternalismo e apenas salvar o empresário que não deu certo. Os casos da Light, Varig e Brasil Ferrovias são bons exemplos. Não lavamos as mãos, mas também não entramos numa postura de que, porque havia um mérito de impacto de empregos e conseqüências para a economia, faríamos (financiamentos) em qualquer condição".

DESAFIOS: "Queremos rever nossos processos e fazer todos os despachos eletronicamente. É um processo de modernização chamado de Gestão Integrada de Recursos (GIR). Mas enquanto esperamos o GIR entrar em operação, já reduzimos os documentos exigidos para a maior parte dos projetos, de 13 para oito. Também aprovamos a flexibilização das garantias para empresas de baixo risco e com boa governança corporativa".