Título: Rolo-compressor democrata
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Fonte: O Globo, 05/01/2007, O Mundo, p. 26

Depois de 12 anos, o Congresso dos Estados Unidos voltou a ser controlado pelo Partido democrata, que desde ontem tem a maioria no Senado e na Câmara dos Representantes. Além da nova e possivelmente dura oposição que o presidente George W. Bush deverá enfrentar dos congressistas que tomaram posse ontem, e da histórica eleição da primeira mulher, Nancy Pelosi, como presidente da Câmara, os novos líderes do novo Congresso prometem um rolo-compressor de cem horas de mudanças nas leis há tempos mantidas em vigor pelo Partido Republicano.

Entre os projetos que serão apresentados pelos democratas, a maior ênfase será dada a questões ligadas à ética na política, depois de o Congresso passado ter sido um dos mais criticados na história nesse tema. O aumento do salário-mínimo e o financiamento das pesquisas de células-tronco também deverão ser votados nos próximos dias.

- Toda essa energia de promover a mudança vai começar nas nossas primeiras cem horas - anunciou a deputada Nancy Pelosi, minutos depois de ser eleita presidente da Câmara dos Representantes, onde os democratas agora têm uma maioria de 233 das 435 cadeiras. - Cem horas para fazer deste o mais honesto e transparente Congresso da história. Cem horas para aumentar o salário-mínimo, para reduzir os custos das universidades para os nossos estudantes, para tornar o atendimento hospitalar mais barato, para tornar nosso país mais seguro. Cem horas para promover a pesquisa de células-tronco. Cem horas para fazer tudo isso de maneira responsável em termos fiscais para não criar montanhas de dívidas para nossas futuras gerações.

As primeiras medidas a serem apresentadas hoje estarão contidas num pacote para tornar mais éticas as relações políticas no Congresso. Na nova legislação está a proibição de congressistas receberem presentes e pagamento de viagens por lobistas. A relação considerada promíscua entre deputados e senadores com lobistas provocou vários escândalos nos últimos dois anos, corroendo a imagem do Congresso no país. Pelosi ontem atribuiu essas relações perigosas a uma "cultura de corrupção" que tomou o Capitólio.

Bush pressiona por corte de impostos

O novo líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, defendeu a mesma proposta de mudar as práticas de lobistas no Congresso, mas buscou fazer o anúncio ao lado do novo líder da minoria republicana, Mitch McConnell - a vantagem dos democratas na casa é mínima, 51 das 100 cadeiras.

- Esta reforma está atrasada há muito tempo e é absolutamente necessária - disse.

Naturalmente, no controle do tempo dos democratas são contadas só as horas em que o Congresso estiver aberto. Assim, as cem horas continuarão semana que vem, quando será a vez de aprovar as recomendações antiterroristas da comissão que investigou os fatores que possibilitaram os atentados do 11 de Setembro.

O salário-mínimo americano, que desde 1997 é de US$5,15 (R$11) por hora, será aumentado. O Congresso deve aprovar um aumento de US$2,10 por hora, que entrará em vigor gradativamente nos próximos dois anos.

Os deputados democratas afirmaram que aprovarão também na semana que vem o financiamento federal da pesquisa com células-tronco, projeto que depois será enviado para o Senado. O presidente Bush vetou ano passado uma legislação parecida.

Os próximos desafios dos democratas, não incluídos nas cem horas, serão duas das áreas em que o governo Bush provocou maior polêmica. O corte de impostos e a imposição de limites claros ao Executivo.

O próprio presidente pressiona o Congresso a tornar permanentes os cortes de impostos temporários aprovados por ele até 2010, chegando a escrever um artigo que foi publicado no jornal "Wall Street Journal".