Título: Tremor no PSDB: está só começando
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 06/01/2007, Panorama Político, p. 2

O governador José Serra não é um destemperado: quando se excede no sal, tem um objetivo. A forma quase áspera com que anunciou seu pacote de austeridade fiscal, ferindo os brios do antecessor, Geraldo Alckmin, é um aviso: agora manda ele, que tem visão própria e objetivos definidos.

E, dele, pode-se concluir que será forte o terremoto no PSDB para a escolha do candidato a presidente em 2010, já polarizada entre Serra e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Se os tucanos governaram o Estado de São Paulo por 12 anos seguidos, e Serra acha necessário rever contratos e até mesmo recadastrar funcionários, suspeitando que haja fantasmas, é sinal de que são imensas suas restrições à gestão de Alckmin, que, naturalmente, ficou muito melindrado. Seu sucessor por alguns meses, o pefelista Cláudio Lembo, também, mas a chibatada foi sobretudo em Alckmin e sua equipe, mantida depois que se afastou. Ele sabe o que significa: não terá o apoio do governador em sua pretensão de disputar a prefeitura de São Paulo em 2008.

E, quando isso acontecer, se acontecer, a guerra interna pela sucessão de 2010 estará deflagrada para valer. Pois Alckmin já tem o apoio do governador Aécio Neves e de outros tucanos não-paulistas à sua candidatura. Os "outros" podem até aceitar uma outra candidatura tucana à prefeitura de São Paulo, mas dizem que não há hipótese de assimilarem o apoio de Serra, ou pelo menos do PSDB, à candidatura do atual prefeito, o pefelista Gilberto Kassab, que era vice de Serra. Ainda mais agora, com o crescente afastamento entre PFL e PSDB. Mas a inclinação de Serra seria pelo apoio a Kassab, que lhe é devoto. Sua recondução garantiria a Serra a ascendência sobre duas poderosas máquinas políticas, a da prefeitura e a do governo do estado.

Mas, antes disso, haverá outra contenda entre os tucanos. Mais para o fim deste ano, quando for escolhido o novo presidente do partido. Fernando Henrique vem se consolidando como o quadro mais apto, mas, para ter apoios do eixo não-paulista, ele teria que se dissociar um pouco de Serra e de seu projeto presidencial. Quem conhece os dois sabe que eles brigam, mas não rompem.

Daqui até 2010, haverá tremores constantes na plataforma tucana. Mas não será muito diferente no PT, que, não tendo candidato, vê Lula cada vez mais "solto", podendo vir a apoiar um nome de outro partido.