Título: Discreta recuperação da indústria
Autor: Louven, Mariza
Fonte: O Globo, 06/01/2007, Economia, p. 19

Aexpectativa de queda da produção industrial, de outubro para novembro, não se confirmou. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve uma discreta recuperação de 0,8% no mês, já descontados os efeitos sazonais, segundo resultado positivo consecutivo. O crescimento frente a novembro de 2005 também foi além das projeções e chegou a 4,2%. Com expansão acumulada de 3,1% em 11 meses, o resultado de 2006 dificilmente ficará abaixo de 3%.

A expansão foi generalizada, com destaque para a produção de bens de capital (máquinas e equipamentos), que avançou 2,2% frente a outubro e 7,9% em relação a novembro de 2005 - o acumulado no ano chegou a 5,7%, indicando continuidade dos investimentos que resultarão no aumento da oferta futura. Os bens intermediários (insumos e matérias-primas), com peso elevado no cálculo da produção industrial do país, também pesaram positivamente: avançaram 1,6% em relação a outubro e 3,2% frente a novembro de 2005, acumulando alta de 2,1% no ano.

Segundo Sales, os setores que mais pressionaram o resultado da indústria para baixo foram os que são mais sensíveis ao câmbio.

Resultado favorece queda dos juros

Se as empresas não erraram nos seus cálculos, o aumento da produção de bens intermediários pode indicar uma elevação da atividade industrial no início de 2007, analisou o coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales. Segundo ele, os bens intermediários funcionam como indicadores antecedentes do comportamento futuro da produção, porque são compostos por matérias-primas e insumos usados na fabricação de bens de consumo final.

- O desempenho do comércio no fim de 2006 vai mostrar como a indústria iniciará o ano. Se as vendas de novembro e dezembro são maiores, impulsionam a produção no ano seguinte, para recomposição dos estoques - disse Sales.

Num ano marcado pelo sobe-e-desce da produção, o economista Luiz Dias Bahia, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acha que os empresários estão cautelosos:

- Em princípio, há uma forte aversão ao risco. Ou seja, as empresas acumulam estoque, escoam até chegar perto do nível crítico e voltam a produzir. Esta precaução é razoável. Eles temem ser surpreendidos por um movimento fraco do consumo.

Bahia lembra que o mercado interno está crescendo, mas não tão acelerado ao ponto de levar a uma forte retomada da indústria. Além disso, não há capacidade instalada capaz de fazer frente a uma expansão maior da produção:

- A indústria automobilística, por exemplo, precisa importar aço. Com a capacidade da siderurgia brasileira perto do topo, os empresários temem sofrer pressão dos fornecedores por aumento de preços - acrescentou Bahia.

A discreta recuperação aparece como tendência na taxa acumulada nos últimos 12 meses, que manteve trajetória de aceleração, passando de 2,8% em outubro opara 3% em novembro. Ou seja, a indústria começa o ano de 2007 sem viés recessivo.

Pelo contrário. O setor de bens de capital acumulou 5,7% de expansão no ano, apesar da concorrência expressiva dos equipamentos de origem estrangeira, cujo custo foi muito barateado por causa da valorização do real. De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), este é um dos poucos fatores que permitem alimentar para 2007 a expectativa de um crescimento econômico mais expressivo. A expansão da produção de bens de capital aponta para aumento do investimento, que garante a ampliação da capacidade de oferta. "Este é um importante fator em prol da continuidade da redução da taxa de juros pelo Banco Central", diz a instituição.

Pressão menor sobre a inflação

O Bradesco também destacou, no seu relatório de ontem, que se as expectativas de continuidade do crescimento do consumo de bens de capital se confirmarem, o Comitê de Política Monetária (Copom) - que se reunirá nos próximos dias 23 e 24 para decidir a taxa de juros da economia - terá menos motivos para se preocupar com eventuais riscos inflacionários, já que a oferta vai aumentar. O Banco Central projeta crescimento de 7,1% na formação bruta de capital fixo (taxa de investimento) este ano.

- A indústria superou as expectativas. Parece que os estoques estão diminuindo e isso abriu espaço para o crescimento da produção. A importação continua forte, razão pela qual o resultado não pode ser tido como muito bom. No entanto, para a economia como um todo, o resultado é favorável e reforça a expectativa de um crescimento da economia em 2007 cerca de 0,5% maior que o de 2006 - opinou o professor do Ibmec/RJ, Gilberto Braga.

Na comparação com outubro, 14 dos 23 ramos da indústria que têm séries ajustadas sazonalmente cresceram. O refino de petróleo e a produção de álcool, com expansão de 4,6%, tiveram influência significativa no resultado. Este segmento voltou a crescer depois de quatro taxas negativas consecutivas, que resultaram numa perda acumulada, neste período, de 9,5%.

Em relação a 2005, foi o quinto resultado positivo consecutivo. Dos 27 ramos pesquisados, 21 avançaram. Os impactos positivos mais importantes vieram de máquinas para escritório e equipamentos de informática, de 54,5%. No ano, este segmento acumulou alta de 52,8%.