Título: Divisão da base preocupa governo e governistas
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 07/01/2007, O País, p. 9

Se persistir o cenário atual, com Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia praticamente empatados, o presidente Lula terá que procurar uma saída honrosa para evitar a divisão na base. Ele mesmo tem admitido que não tem solução satisfatória para o caso. E isso tem preocupado aliados, que começam a cobrar do presidente uma orientação clara para tomar posição na eleição da Câmara.

- O presidente Lula tem que ajudar nesse impasse. Como ele vai deixar a gente no meio de um tiroteio desse? Pelo jeito, o pepino vai sobrar para os aliados - reclamou o líder do PMDB, deputado Wilson Santiago (PB), preocupado com as pressões de todos os lados por uma definição do seu partido.

De forma discreta, Lula passou a estimular Aldo e deu carta branca para ele negociar com a oposição, contrariando o próprio PT, que queria uma prévia na base aliada. Ele considera a candidatura de Aldo mais harmônica para o seu governo, segundo relato feito por interlocutores. Mas faz com cuidado, para não acirrar os ânimos no PT.

Por isso também orientou seus ministros a não entrarem na disputa. A ordem não foi por acaso: chegou ao Palácio do Planalto o relato de que integrantes do PT estavam começando a mobilizar ministros para ajudar na liberação de emendas parlamentares ao orçamento de suas respectivas pastas. O objetivo seria oferecer vantagens para parlamentares de outras legendas e mostrar influência no governo. Alertado, Lula bloqueou a estratégia petista.

Aldo evitaria fortalecimento de grupo paulista do PT

Lula avalia ainda outra vantagem na candidatura Aldo: evitaria o fortalecimento do grupo paulista do PT. Ele tem percebido que o grupo, que inclui o ex-ministro José Dirceu, está ressentido com o enfraquecimento do núcleo de São Paulo no governo e tenta, com Chinaglia, um espaço de poder. O grupo usaria a gestão de Chinaglia para fazer um contraponto de poder neste segundo mandato. No Planalto, a constatação é de que o candidato petista já virou refém desse grupo. Chinaglia negou que sua candidatura possa causar prejuízo ao Planalto:

- A hipótese de implodir a base governista não é o lançamento de uma candidatura da maior bancada, e sim da menor bancada. Nós temos a legitimidade da proporcionalidade. Por isso, não vejo como razoável a hipótese de que minha candidatura possa prejudicar a base.

Mas o presidente da Câmara ainda apostava numa solução política para a crise.

- A eleição da Câmara dos Deputados é uma eleição livre e tem que buscar o acordo político - disse Aldo, afinado com o discurso de Lula.