Título: Lula demonstra irritação pela morosidade de auxiliares
Autor: Jungblut, Cristiane e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 07/01/2007, O País, p. 11

Ainda com Ministério velho, sem medida nova anunciada e em ritmo de férias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro na sua primeira semana de trabalho do segundo mandato que anda contrariado e insatisfeito com a atuação de pelo menos parte de sua equipe. Em duas ocasiões ao longo da semana, Lula reclamou de ministros, dizendo publicamente que fez pedidos que não foram atendidos: o primeiro, foi o pacote de cidadania; o segundo, a mudança no tamanho das casas populares construídas pelo governo. Isso depois de várias queixas, no fim do ano passado, sobre a inconsistência do prometido pacote econômico, que já teve seu anúncio adiado algumas vezes.

Junta-se a este clima de insatisfação a indefinição sobre seu novo Ministério, uma vez que muitas pastas ainda dependem de indicações dos partidos da coalizão de governo. Antes de sair de férias, sexta-feira, Lula disse a interlocutores que vai ouvir as indicações dos partidos, lá na frente, mas decidirá sozinho se aceita ou não determinado nome. E, mais uma vez, expressou a insatisfação com o desempenho de alguns setores do governo.

- Antes, o presidente decidia em grupo, discutia os nomes com alguns ministros. Agora, ele diz que a decisão de acolher ou não será dele, porque a responsabilidade final é dele - disse um interlocutor de Lula.

Reuniões deixam Lula insatisfeito

Logo depois da reeleição, o presidente Lula reforçou a equipe que estava preparando o pacote econômico, mas em três ou quatro reuniões com os ministros responsáveis deixou claro que não estava satisfeito e queria mais. Esta semana, a cobrança partiu para outras áreas, e publicamente Lula fez queixas sobre a demora para ver seus pedidos atendidos.

Durante cerimônia do programa Luz para Todos, o presidente reclamou que "há um ano" cobrou dos ministros da área social a conclusão de um "pacote de cidadania" para os setores mais desfavorecidos da população, citando como beneficiados assentamentos de sem-terra, comunidades indígenas e quilombolas.

- Faz um ano que estou pedindo aos ministros da área social: temos que ter uma espécie de pacote de cidadania, ou seja, quilombola, terra indígena, assentamento, periferia mais pobre, temos que chegar lá com saúde, educação, luz, computador - disse Lula, terça-feira, seu primeiro dia de trabalho.

No dia seguinte, quarta-feira, foi a vez de reclamar dos ministros da área de infra-estrutura. Diante dos fotógrafos que foram registrar a reunião, Lula não hesitou e começou a reclamar do tamanho das casas construídas pelos programas habitacionais, afirmando que elas são muito pequenas. Ele chegou a classificar algumas de "uma vergonha" - as unidades entregues por ele mesmo em Lauro de Freitas (BA). Ministros disseram que Lula vem cobrando soluções para isso há algum tempo.

Antes das férias, mais cobranças

Antes de viajar para o Guarujá (SP), onde pretende ficar até o dia 15 descansando, o presidente voltou a reunir os ministros palacianos e cobrar pressa, agilidade e medidas concretas para o pacote que será anunciado dia 22, o chamado Pacote de Aceleração do Crescimento (PAC). Dilma Rousseff (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Planejamento) estão amarrando os últimos pontos que deverão ser consolidados a partir do dia 16, quando o ministro Guido Mantega (Fazenda) volta de suas férias.