Título: Pacote beneficiará setores que mais crescem
Autor: Oliveira, Eliane e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 07/01/2007, Economia, p. 32

Os setores automotivo, de bens de informática, de papel e celulose, siderúrgico e de construção civil foram os que mais se destacaram em 2006, segundo um levantamento do Ministério do Desenvolvimento obtido pelo GLOBO com exclusividade. São justamente essas áreas que devem ser contempladas, de forma mais vigorosa, no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) com a suspensão do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), do PIS e da Cofins na aquisição de máquinas e equipamentos, devido ao seu potencial de investimento na economia brasileira.

- São setores importantes que, certamente, contribuirão para um crescimento maior da economia este ano - disse o secretário de Desenvolvimento da Produção, Antônio Sérgio Martins Mello.

Alimentado em grande parte pelos veículos flex fuel, que podem usar como combustível gasolina, álcool hidratado ou a mistura dos dois, as vendas do setor automotivo no mercado interno chegaram a 1,8 milhão de unidades, uma expansão de 13% em relação a 2005, segundo dados de distribuidores. Os flex representam 77% do mercado interno, o que levou ao aumento do consumo de etanol.

Atualmente, oito montadoras fabricam modelos flex: Peugeot, Citroën, Fiat, Ford, GM, Volkswagen, Renault e Honda. A Toyota quer entrar no mercado este ano. Somente o segmento de álcool pretende investir US$14,6 bilhões até a safra 2012/2013, com produção de 35,76 bilhões de litros.

Após corte de tributos, sobe arrecadação do governo

Em informática, a redução a zero do PIS/Cofins sobre computadores no valor de até R$3 mil fez com que a produção nacional se expandisse de 4 milhões de unidades em 2004 para 5,5 milhões em 2005. A expectativa do Ministério do Desenvolvimento é que, em 2006, o volume registrado tenha atingido 8 milhões de máquinas (expansão de 45,5%). A arrecadação de impostos do setor, ao contrário do que pensavam técnicos contrários ao incentivo, cresceu 33%.

Grande gerador de empregos e uma das vedetes da pauta de exportações, o setor de papel e celulose investiu, nos últimos 10 anos, US$12 bilhões em sua capacidade produtiva, levando o Brasil a se tornar o maior produtor mundial de celulose fibra curta. Em 2006, as empresas aumentaram em 6,3% sua produção e, em 2007, o setor de papel e celulose espera crescer 23%, elevando o faturamento para cerca de R$37 bilhões. Segundo dados da Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa), para 2007, o consumo deve aumentar 4% este ano.

De 2005 a 2010, a siderurgia terá investido US$15,6 bilhões na expansão da produção. A produção de aço bruto deve crescer 12,8% este ano, enquanto as vendas internas subirão 6,1% no mesmo período. Mas, segundo representantes do setor, o resultado poderia ter sido melhor.

- O Brasil ainda precisa de mais investimentos. O crescimento do setor siderúrgico e uma boa taxa de aumento do PIB (Produto Interno Bruto) estão diretamente interligados - afirmou o vice-presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes.

Segundo ele, é preciso expandir o consumo interno de produtos siderúrgicos. Lopes destacou que, enquanto no Brasil o consumo de aço chega a 100 kg por habitante, na Espanha o volume atinge 500 kg per capita.

Já os representantes da construção civil não cabem em si de contentamento. Mesmo já tendo sido beneficiado por uma série de desonerações no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o setor está na lista dos que serão contemplados no novo pacote de estímulo ao crescimento, com incentivos fiscais e facilidades no financiamento, dada a sua grande capacidade de aumentar investimentos e gerar empregos. A construção civil representa 7,2% do PIB.

De acordo com o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady, os investimentos deste segmento devem chegar a R$50 bilhões em 2007. Ele lembrou que o setor registrou crescimento de 5% em 2006.

- Vamos dar uma ajuda significativa no PIB - disse Safady.

Ninguém mais no governo se arrisca a fazer previsões sobre o crescimento do Produto Interno Bruto. A expectativa de uma taxa de 5% ou mais por ano é de alto risco. O que existe de oficial é a estimativa do Banco Central para 2007, de 3,8%. Mas a projeção não leva em conta o pacote de medidas que será anunciado este mês, para ajudar a economia a se desenvolver.