Título: Oposição lança a 3ª via para presidir Câmara
Autor: Gois, Chico de e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 08/01/2007, O País, p. 5

Apostando na divisão da base governista, um grupo de deputados lança hoje oficialmente, em São Paulo, a chamada terceira via, que pretende lançar uma candidatura à Presidência da Câmara de Deputados, em oposição aos governistas Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). A articulação acendeu a luz amarela no governo, e hoje o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, começa, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ciclo de reuniões com os presidentes dos dez partidos aliados que formam o Conselho Político. O objetivo é chegar a um nome de consenso e em plena sintonia com o Palácio do Planalto.

Nas conversas, conduzidas por Tarso, serão mapeadas as intenções de voto em Aldo e Chinaglia e as chances de crescimento da terceira via. O temor é que se repita o cenário de 2005, quando um racha no PT levou à eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE).

- Faremos um levantamento das potencialidades de cada candidato para que, se a gente entender que pode ter a terceira candidatura, ver qual é o nome mais forte na base. Mas não se trata de ultimato, o governo não vai impor qualquer solução. Se constatarmos que há perigo, na base do governo, de dispersão com o lançamento de uma terceira candidatura, vamos emitir opinião - disse Tarso.

Lula está preocupado com divisão que se repete

Segundo interlocutores, Lula disse aos dois candidatos da base, sexta-feira, que a divisão é muito ruim e que se repetem erros de 2005. Lula espera que, entre os dias 20 e 25, Chinaglia - que viajou com Lula para São Paulo - e Aldo cheguem a um acordo. No Planalto, a avaliação é que Aldo será o candidato, pois qualquer nome do PT encontra resistência na Casa.

- O presidente disse que não dá para repetir o filme e que seria muito desconfortável ter que se intrometer - disse um interlocutor de Lula.

Um dos primeiros presidentes de partidos aliados a se encontrar com Tarso deve ser o do PMDB, Michel Temer (SP), já que amanhã a bancada peemedebista da Câmara se reúne para discutir qual posição tomar. O presidente do PDT, Carlos Lupi, também está na lista. Embora a legenda ainda não tenha escolhido entre Aldo e Chinaglia, Lupi defendeu a candidatura única, acordada até o dia 20:

- Como entrar em um governo de coalizão se não há coalizão na escolha do nome?

O grupo da terceira via aposta justamente nessa falta de unidade, principalmente dentro do PMDB, para engordar as adesões. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), um dos articuladores, propõe que o grupo lance um nome de oposição para concorrer à presidência. Ele conversou com o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), que tem se mostrado contrário à terceira via, apostando na candidatura de Aldo:

- Disse ao Rodrigo que não faz sentido apoiar um candidato do Lula contra um candidato do PT. Isso não é papel da oposição - disse Jungmann.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), integrante da terceira via, discorda:

- Temos nomes tanto no PT como no PMDB. Eles só temem sair da linha de seu próprio partido - disse Gabeira, para quem o mais importante é que o candidato tente refazer laços entre a Câmara e a sociedade.

Para Jungmann, mais importante que o nome é a proposta que o grupo quer representar, o que deverá ser discutido hoje. Segundo ele, somente no fim desta semana o nome do candidato deverá ser escolhido.