Título: Receita antiga
Autor: Reis, Luiz Fernando Santos
Fonte: O Globo, 08/01/2007, Opinião, p. 7

O governo parece ter finalmente acordado para o fato de que não haverá crescimento econômico sem investimento em infra-estrutura. Determinado a fazer o país crescer 5% já em 2007, o presidente Lula decidiu acelerar projetos que estão parados por questões burocráticas ou outros entraves. Será uma corrida contra o tempo, para compensar o descaso com que o setor foi tratado nos últimos anos. A indústria brasileira já opera a quase 100% da capacidade e os empresários não se dispõem a fazer investimento porque vão esbarrar na falta de portos, ferrovias e rodovias para escoar sua produção.

A julgar pelo Orçamento, as perspectivas são boas para 2007. A proposta aumenta em 20% a verba para infra-estrutura, que seria de R$13,7 bilhões, dos quais o setor de transporte ficaria com R$6,3 bilhões, 34,1% a mais que em 2006. A prioridade é para as rodovias, pois 75% da malha brasileira apresentam algum tipo de deficiência. Além disso, o setor de transportes deverá receber 90% dos recursos do Projeto-Piloto de Investimentos (PPI) de 2007, totalizando R$4,1 bilhões.

Os números são animadores, mas o otimismo deve ser moderado. Primeiro porque estão aquém do que o país precisa para sair do crescimento tímido de 3% do PIB e chegar aos 5% desejados. Além do mais, o histórico mostra que a intenção anunciada de investir em infra-estrutura não tem sido acompanhada do respectivo gasto. E aí estão as causas da situação atual de estrangulamento da economia, que nos condena a um crescimento medíocre.

O Brasil precisa investir R$9 bilhões anuais em saneamento básico entre 2007 e 2010. Nos transportes, a média anual necessária de investimentos é de R$14 bilhões. São recursos muito superiores aos que o governo reservou para o setor, mas não conseguiu gastar em 2006. Sem investimento público, a área de infra-estrutura foi ainda prejudicada este ano pela paralisação do processo de concessão de rodovias, que ficou por vários meses no Tribunal de Contas da União (TCU). Tudo o que se viu foi unicamente a Operação Tapa-Buracos, paliativo criticado pela execução em ano eleitoral e pela forma de contratação de emergência. Operação, aliás, que ainda não foi paga: até o fim de outubro, as empreiteiras tinham recebido apenas 34% do contratado.

São questões que precisarão ser enfrentadas pelo governo, se quiser realmente garantir uma elevação de 5% no PIB em 2006 e um crescimento econômico sustentado nos próximos anos.

Não há milagre que faça um país crescer 5% ao ano sem infra-estrutura para suportar essa expansão. Investir em saneamento, portos, ferrovias e rodovias é a antiga receita simples e, por isso mesmo, universal. A novidade é que o governo parece disposto realmente a aplicá-la.