Título: Sala de aula digital
Autor: Tavares, Mônica e Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 08/01/2007, Economia, p. 13

Correndo contra o atraso tecnológico nas escolas públicas do país, o governo prepara um pacote de inclusão digital para a área de educação. Estão previstas pelo menos cinco ações, com investimentos que superam R$170 milhões. Em março, começará a distribuição de 75.580 computadores de mesa para 7.500 escolas de ensino médio que ainda não possuem laboratório de informática. Em seis cidades, entre elas o Rio, estudantes receberão laptops num projeto-piloto que poderá ser estendido a todo o país. Outra frente é a atualização de computadores doados por empresas para uso nas redes de ensino. Um centro de recuperação funciona em Porto Alegre. Em breve, São Paulo e Distrito Federal ganharão oficinas semelhantes.

O esforço de inclusão digital segue a linha do discurso de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu o segundo mandato prometendo informatizar todas as escolas públicas do país. No primeiro mandato, o governo lançou o programa Computador para Todos, que dá isenção fiscal e financiamento para facilitar a compra de equipamentos pela população de baixa renda. Agora o foco é o estudante da rede pública para melhorar a qualidade do ensino.

- O compromisso de informatização não é só da União. Se estados e municípios mantiverem o mesmo nível de investimento, é razoável imaginar que todas as escolas vão ter laboratório de informática - diz o secretário de Educação a Distância do MEC, Ronaldo Mota.

Colégio Pedro II receberá versão portátil

Das 143 mil escolas públicas de ensino fundamental espalhadas pelo país, apenas 16.792 contavam com laboratórios de informática no ano passado, segundo o MEC. No ensino médio, 8.172 estavam na mesma situação, num total de 16.570. A distribuição dos 75.580 computadores até julho vai praticamente universalizar a informatização das escolas de nível médio. Depois disso, o desafio será equipar 126 mil estabelecimentos de nível fundamental, dos quais 89 mil ficam em zonas rurais e 25 mil não têm sequer energia elétrica.

- Computadores e internet ajudam a desenvolver o potencial das crianças. As escolas privadas já têm laboratórios de informática e as públicas têm que ter também. É uma forma de prover condições equânimes - diz o diretor de Infra-Estrutura Tecnológica da Secretaria de Educação a Distância do MEC, Espartaco Madureira.

Os 75.580 computadores foram comprados no ano passado, por R$82 milhões. Cada laboratório é formado por dez máquinas. A previsão é que 5.990 unidades sejam distribuídas no Estado do Rio, beneficiando 599 escolas. A compra atenderá apenas estabelecimentos de ensino médio que nunca tenham sido contemplados com laboratórios de informática.

Ciente de que a aquisição de computadores não basta, o governo estuda formas de conexão à internet para as milhares de escolas públicas. Uma das possibilidades é incorporar parte delas à Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que atualmente interliga 250 universidades e centros científicos à internet. A idéia é utilizar tecnologia do tipo sem fio, atingindo escolas distantes dos cabos da RNP.

O MEC deverá lançar este ano leilão para a compra de 90 mil computadores. A iniciativa faz parte do Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo), criado em 1997, e que já levou 60 mil computadores a escolas do país.

A idéia é equipar, em 2008, 12 mil escolas rurais de 5ª a 8ª séries. Nos três anos seguintes, outras 45 mil escolas rurais de ensino fundamental seriam atendidas, beneficiando mais de 90% do total de estudantes em zonas rurais.

O secretário Mota diz que as máquinas serão enviadas com softwares educativos para suprir a deficiência de falta de acesso à internet. Isso é especialmente importante nas áreas de conexão mais difícil. Segundo Mota, o investimento na produção de conteúdo é uma preocupação central do presidente Lula.

Já os projetos-pilotos de distribuição de laptops serão lançados em seis escolas de Manaus, João Pessoa, Tiradentes (MG), Piraí (RJ), Rio e Palmas. No Rio, o escolhido deverá ser o Colégio Pedro II. O computador portátil seguirá o modelo de baixo custo lançado originalmente pelo MIT (Massachusetts Institute Technology), nos Estados Unidos.

O MEC planeja investir R$1 milhão na compra de mil laptops. Outras 1,5 mil máquinas virão de doações de entidades internacionais ou empresas estrangeiras interessadas em mostrar seus produtos para convencer o governo a adquiri-los.

A vantagem dos computadores portáteis, segundo Madureira, é a possibilidade de uso em sala de aula, sem a necessidade de deslocamento para o laboratório de informática:

- O professor poderá usar computador nas aulas, tendo acesso a todas as bibliotecas do mundo e aos portais de conteúdo do MEC.