Título: A terceira via
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 09/01/2007, O Globo, p. 2

Os deputados da oposição que se reuniram ontem em São Paulo sabem o quanto é complexa a construção de uma candidatura viável à presidência da Câmara. É difícil romper a polarização entre o presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Mas esse grupo de deputados quer influir no resultado e sua movimentação atrapalha os planos dos petistas.

Aparentemente, por ser integrada por deputados de oposição, onde há maior simpatia por Aldo, a reunião de ontem poderia ser uma boa notícia para Chinaglia. Mas a decisão adotada, de buscar um candidato desta terceira via no PMDB, mostra a intenção principal do grupo, a de prejudicar a articulação petista. O deputado tucano Paulo Renato Souza (SP) conversou com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), antes e depois da reunião. O grupo quer que o PMDB indique o candidato da terceira via. Como se sabe, há setores da maior bancada que defendem o lançamento de uma candidatura do partido. O canto da sereia ocorre às vésperas de uma reunião em que o PMDB vai analisar a proposta feita pelo PT, pela qual daqui a dois anos os peemedebistas presidirão a Câmara e o Senado.

¿ Nós esperamos que o PMDB indique um candidato. A Câmara precisa de renovação. Um nome que rompa com o passado recente. O Chinaglia representa o núcleo duro do mensalão. O Aldo se complicou na discussão sobre o aumento salarial dos parlamentares e pelas absolvições ocorridas no plenário ¿ resume Paulo Renato.

A proposta da terceira via nasceu no PPS e recebeu o apoio do PSOL e de setores do PSDB. Os principais articuladores são os deputados Raul Jungmann (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ). O objetivo inicial do grupo é ganhar a sociedade e as ruas para a tese de que a Câmara precisa de um presidente sem vinculação com o passado. Argumentam que foi desta forma, recorrendo à opinião pública, que Gabeira e Jungmann conseguiram impor ao conjunto da Câmara suas posições em três episódios emblemáticos: o da renúncia do ex-presidente Severino Cavalcanti, o da criação da CPI dos Sanguessugas e o que impediu o aumento salarial dos parlamentares.

Hoje a novela terá novo capítulo. A cúpula do PMDB, que não uniu o partido para eleger um dos seus, vai tentar juntá-lo para apoiar um petista.