Título: O lance do PMDB
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 10/01/2007, O Globo, p. 2

O candidato do PT à presidência da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), assumiu a condição de favorito ontem ao obter o apoio institucional do PMDB. Os aliados do petista têm agora um argumento para convencer os demais a apoiarem o acordo com o PT, pelo qual daqui a dois anos o PMDB assumirá a presidência da Câmara. Essa posição implica mudanças políticas relevantes.

A candidatura de Chinaglia torna-se irreversível. A pressão toda se transfere para o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que sofrerá forte cobrança para desistir da reeleição em função da unidade da base governista. Os aliados de Aldo tentam se animar dizendo que o petista teve metade (46 votos) da bancada de 89 deputados. Mas o fato é que Chinaglia poderá embalar sua candidatura ostentando os apoios de PT e PMDB. Diante desta evidência, a tendência da maioria dos parlamentares da base governista é marchar com o petista. Só um fato novo pode inverter a tendência que se criou.

A correlação de forças no PMDB também muda. O grupo liderado pelo seu presidente, Michel Temer (SP), e pelos deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Eliseu Padilha (RS) passa a ser um pólo de poder real no partido. A presença do PMDB na reforma ministerial agora passará também por este grupo, e não apenas pelo grupo comandado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), pelo senador José Sarney (AP) e pelo deputado Jader Barbalho (PA). Este resultado aponta para a permanência de Temer na presidência do PMDB e indica que esse grupo deverá fazer o líder da bancada na Câmara.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) dizia, antes da reunião, que as coisas iam bem para a candidatura Chinaglia. Já saboreava a decisão que o PMDB tomaria horas depois. Dois anos após ter sido derrotado pelo então ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e pelo PMDB, na votação da emenda que permitiria sua reeleição à presidência em 2005, João Paulo dá o troco e, com o PMDB, praticamente inviabiliza a reeleição de Aldo.

Mas a novela da eleição na Câmara não acabou. Será preciso aguardar seus desdobramentos para avaliar os reflexos na coalizão e na base aliada.