Título: Associação protesta contra lentidão
Autor: Vargas, Rodrigo
Fonte: O Globo, 10/01/2007, O País, p. 8

Representante dos parentes das vítimas afirma que há desrespeito

BRASÍLIA. O presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo 1907, Jorge André Cavalcante, reagiu ontem com indignação à demora da Justiça para autorizar a prorrogação do inquérito que investiga a queda do avião da Gol que matou 154 pessoas, em 29 de setembro do ano passado. Irritado com o que chamou de ¿dois pesos e duas medidas¿ da Justiça brasileira, pelo fato de os pilotos do jato Legacy terem sido autorizados a deixar o Brasil, enquanto os parentes não conseguem ter acesso aos resultados preliminares da investigação da Aeronáutica, Cavalcante considerou um desrespeito qualquer atitude ¿ ou falta dela ¿ que retarde a conclusão do inquérito.

¿ É um abuso e um absurdo se isso estiver acontecendo. Um desrespeito ao cidadão que teve parente, cônjuge ou amigo que faleceu nesse vôo. Desconheço a situação e vou checar isso amanhã (hoje) durante o dia ¿ afirmou Cavalcante ontem à noite, ao saber pelo GLOBO que as investigações estão paradas.

Para entidade, pilotos do Legacy foram imprudentes

O presidente da associação perdeu o sobrinho Carlos Cruz, de 26 anos, que estava a bordo do avião da Gol que se chocou em pleno ar com o jato Legacy da empresa ExcelAire, quando viajava de Manaus para Brasília. Cavalcante criticou a decisão da Justiça de autorizar os pilotos do Legacy, Joe Lepore e Jan Paladino, a deixar o Brasil. Na opinião do presidente da associação, está comprovada a imperícia dos dois pilotos durante o vôo.

Em entrevista após voltarem para os Estados Unidos, os dois pilotos negaram qualquer culpa pelo acidente e disseram que seguiram as instruções passadas pelo controle de vôo.

Já o advogado Paulo Ramalho, que ingressou com ação indenizatória contra a empresa americana ExcelAire na Justiça do Distrito Federal, afirmou acreditar que a demora em concluir a investigação do acidente vai dificultar o pagamento de qualquer indenização.

Segundo o advogado, a divulgação de falhas do Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) no controle de vôo levará a empresa a alegar que o governo federal é também responsável, transferindo o caso para a Justiça Federal. Isso, de acordo com o advogado, afetará também outras ações movidas nas justiças estaduais contra a Gol. Por conta da ação de Ramalho, a Justiça determinou que o jato Legacy permaneça no Brasil.