Título: Países dão apoio a secretário-geral da OEA
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 10/01/2007, O Mundo, p. 27

Chamado de 'imbecil' por Chávez, que pedira sua renúncia, Insulza é defendido durante sessão da entidade

WASHINGTON. José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), não se manifestou em momento algum. Ofendido pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que o chamara de "imbecil" e solicitara a sua renúncia - num discurso na segunda-feira - ele simplesmente presenciou, gratificado, um ato de desagravo realizado ontem pelos demais países-membros da entidade, durante uma sessão do Conselho Permanente.

O assunto foi puxado pelo próprio embaixador alterno da Venezuela na OEA, Nelson Pineda, e acabou se transformando num tiro pela culatra. Assim que tentou insistir na posição agressiva do seu governo, ele foi rebatido com uma série de declarações em defesa de Insulza e da entidade.

Pineda leu um comunicado da Chancelaria de seu país, manifestando preocupação pelo fato de Insulza ter emitido uma nota oficial dizendo que a decisão de Chávez de não renovar a autorização de funcionamento da rede de rádio e televisão RCTV, de Caracas, em maio próximo, tinha "a aparência de uma forma de censura contra a liberdade de expressão".

No sábado, o governo venezuelano exigira que a OEA retirasse a sua crítica, e acusou Insulza "de se intrometer indevidamente em assuntos da Venezuela". E, dois dias depois, Chávez o ofendeu num discurso: "O doutor Insulza dá pena. É um imbecil. Deveria renunciar", disse ele.

Ontem, assim que o embaixador Pineda repetiu a exigência de uma retratação, o representante alterno do Chile (país de Insulza), Francisco Bernales, levantou-se e disse que todos ali estavam preocupados "com o tom das expressões" de Chávez, e exigiu "respeito a um funcionário internacional".

Brasil respalda a liberdade de imprensa

Embaixador lê manifesto e ressalta pluralismo de opiniões

WASHINGTON. A atitude chilena desatou uma torrente de manifestações de apoio ao ex-chanceler José Miguel Insulza. Guatemala, Canadá, Honduras, Brasil, Paraguai, Estados Unidos e Costa Rica deixaram claro que não haveria nenhuma retratação da OEA. Fernando Simas Magalhães, ministro-conselheiro e embaixador alterno da representação do Brasil, leu um pequeno manifesto do governo ressaltando a importância da liberdade de expressão em todo o hemisfério.

"Um espírito de diálogo respeitoso e abertura ao pluralismo de opiniões é fundamental para que a questão da liberdade de expressão possa prosperar como ferramenta de cooperação política em nossa organização", dizia o texto. O diplomata reforçou, em nome do Brasil:

- Somos da opinião que o sistema interamericano dispõe dos mecanismos adequados para que temas desse alcance possam ser vistos dentro de um espírito construtivo, solidário e cooperativo, resguardadas naturalmente as competências próprias de cada um de seus atores e a plena independência soberana do ordenamento interno dos estados membros, nos termos da Carta da OEA.

Pouco depois, num evento paralelo, Sean McCormack, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, lamentou os comentários de Chávez:

- Eles certamente não são construtivos para um maior entendimento e mútuo respeito na região. (J.M.P.)