Título: Terror no interior de Minas
Autor: Rocha, Luiz Fernando
Fonte: O Globo, 11/01/2007, O País, p. 3

Quadrilhas fazem juiz, dois delegados e 15 PMs reféns em seguidos assaltos a banco

Quatro cidades atacadas, seis agências bancárias assaltadas, quase duas dezenas de reféns ¿ incluindo um juiz, dois delegados e 15 policiais ¿ e três pessoas mortas. O interior mineiro foi alvo, de segunda-feira à manhã de ontem, de uma série de assaltos que aterrorizou os moradores. Ousadas, as quadrilhas usavam armas de alto poder de destruição, transformaram reféns em escudo humano, dispararam contra a polícia e a desafiaram. ¿Vem, que a gente vai te ensinar a trabalhar¿, disse um dos assaltantes aos PMs que tentavam cercá-lo em São Gotardo, palco da ação mais violenta. O pior ataque ocorreu no momento em que os quatro governadores do Sudeste ¿ Aécio Neves (MG), Sérgio Cabral (RJ), José Serra (SP) e Paulo Hartung (ES) ¿ discutiam formas de integrar o trabalho das polícias em reunião no Rio.

Os assaltos ocorreram em Tiros (na segunda-feira) e São Gotardo, no Vale do Paranaíba, em São Sebastião do Maranhão, no Vale do Rio Doce, e em Brasilândia, no Noroeste mineiro (as três últimas anteontem). Cerca de 400 policiais de Minas, São Paulo e Goiás estão atrás dos assaltantes, supostamente de São Paulo, por causa das placas de carros usados por eles.

Embora não exista indícios de que as ações tenham sido praticadas pelos mesmos criminosos, a semelhança entre os assaltos de São Sebastião do Maranhão, Brasilândia e São Gotardo faz com que essa hipótese não seja descartada. A polícia investiga se o núcleo da quadrilha contratou criminosos da região e de outros estados.

Tiros, o primeiro alvo no estado

Em Tiros, primeiro alvo, seis homens invadiram uma agência do Itaú. No dia seguinte, mais três ataques, iniciados por volta das 13h, em São Sebastião do Maranhão, de pouco mais de dez mil habitantes, no Vale do Rio Doce. Três homens, segundo a polícia, invadiram uma agência bancária no Centro, renderam vigilantes, funcionários e fizeram um gerente refém. A polícia cercou o lugar, houve troca de tiros. Dois dos assaltantes foram mortos e um deles, preso.

Em Brasilândia, no noroeste, seis homens encapuzados invadiram as agências do Bradesco e do Banco do Brasil, por volta das 15h, após dominar dois PMs que estavam próximos. Eles obrigaram os clientes a formar um escudo humano durante os 35 minutos que durou a ação. Os dois PMs foram levados reféns em uma Blazer e uma caminhonete e libertados alguns quilômetros depois. Segundo a polícia, os assaltantes teriam fugido em direção a Goiás.

Na ação mais violenta, 15 homens invadiram, por volta das 16h, as agências do Itaú e do Banco do Brasil na praça central de São Gotardo, no Vale do Paranaíba. As duas agências, vizinhas, foram cercadas pela polícia. Com a chegada dos PMs, os criminosos abriram fogo.

Testemunhas contaram que os homens gritavam para a polícia que estavam ali para matar e ironizavam dizendo que iriam ¿ensinar a polícia a trabalhar¿. Na fuga, os bandidos amarraram um dos vigilantes do Itaú no capô da Blazer. Um dos assaltantes subiu na carroceria da caminhonete e deu tiros para o alto. Os assaltantes rumaram para a cidade vizinha, Rio Paranaíba. Na fuga pela BR-354, os criminosos se depararam com dois carros ocupados por dois delegados e um juiz. As três autoridades foram rendidas e tomadas como reféns.

Os bandidos foram fazendo novos reféns ao encontrar carros da PM. Chegaram a ser cercados pelos cabos Vandec Costa da Silva e Luiz Alberto Soares, num carro da Polícia Rodoviária Estadual de Carmo do Paranaíba que chegava para dar reforço. Os policiais foram surpreendidos com tiros de submetralhadoras e fuzis. Vandec, de 34 anos, morreu na hora, alvejado com um tiro de fuzil na cabeça. Luiz Soares foi baleado no ombro direito e na mão esquerda e levado refém.