Título: Lula quer Delfim no governo, na cota do PMDB
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/01/2007, O País, p. 10

Partido, porém, espera que a escolha não tire ministérios da legenda

BRASÍLIA. Foi estabelecido um jogo de empurra entre o PMDB e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre um eventual convite ao deputado Delfim Netto (PMDB-SP) para integrar a equipe do segundo mandato. O presidente Lula já mandou recados para peemedebistas dizendo que gostaria de que um dos nomes indicados pelo partido fosse o do ex-ministro (nos governos militares Costa e Silva, Garrastazu Médici e João Batista Figueiredo). Mas os principais líderes do partido não consideram o deputado representativo de um setor do PMDB, até porque ele se filiou recentemente à legenda.

O PMDB deve dizer ao presidente que Delfim pode ser indicado para qualquer cargo, mas será da cota pessoal de Lula, e não do partido. Lula chegou a manifestar seu desejo de ter Delfim no governo em várias ocasiões. Pouco antes de sair de férias, entretanto, deixou em aberto o cargo do peemedebista.

Na visão de Lula, Delfim poderia voltar a ocupar um dos postos que comandou durante o regime militar, o Ministério da Agricultura. Outras opções seriam o Ministério do Desenvolvimento, com uma eventual saída do ministro Luiz Fernando Furlan, ou a presidência do BNDES.

Em dezembro, o nome de Delfim chegou a ser citado por petistas para ocupar a presidência do Banco Central, num claro movimento de tentar queimar o atual titular, Henrique Meirelles. O fato deixou Delfim contrariado, além do próprio Lula, que deixou claro que Meirelles ficaria no governo. O presidente do Banco Central é visto por petistas como conservador e, por isso, um entrave ao plano de crescimento do país proposto por Lula.

De colaborador de militares a conselheiro de Lula

Nos últimos anos, o presidente aproximou-se de Delfim Netto. Economista de formação, o deputado peemedebista transformou-se em conselheiro de Lula. No início de dezembro, ele participou de um encontro no Palácio da Alvorada com outros economistas, como Luiz Gonzaga Belluzzo, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir propostas para o crescimento do país.

Lula considera Delfim um economista moderado, sem ser um desenvolvimentista extremo nem um conservador monetarista. O presidente acredita que ele pode servir de contraponto importante para a sua equipe econômica, servindo como uma espécie de moderador, revelou um assessor do Palácio do Planalto. Havia uma resistência dentro do PT ao nome de Delfim, principalmente por ter sido vinculado ao regime militar. Mas Lula acredita que isso não será mais problema.

Assim que terminou a eleição, Lula cogitou chamar Delfim Netto, que havia acabado de perder a disputa pela reeleição. Mas, como decidiu adiar a reforma ministerial para fevereiro, Lula ainda aguarda uma definição do PMDB.