Título: Rosinha acusa Cabral de amarga traição
Autor: Berta, Ruben
Fonte: O Globo, 11/01/2007, Rio, p. 19

Ex-governadora reage a decisão de acabar com o Cheque-Cidadão, que será substituído pelo Bolsa Família

A decisão anunciada anteontem pela secretária estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Benedita da Silva, de acabar com o programa Cheque-Cidadão gerou uma reação magoada da ex-governadora Rosinha Garotinho. O fim do projeto assistencial, em vigor desde a gestão de Anthony Garotinho, foi definido por ela como uma ¿amarga traição¿ do governador Sérgio Cabral. Os beneficiários do cheque serão incorporados pelo programa Bolsa Família, do governo federal.

¿Não esperava isso dele (Sérgio Cabral). Começar um governo tirando logo a comida da mesa dos pobres? Talvez ainda haja tempo para uma reflexão, afinal ele empenhou sua palavra na campanha, assegurando que os programas sociais seriam mantidos. Eu e Garotinho sempre pedimos ao Sérgio a manutenção dos projetos sociais. E ele nos dizia que eram intocáveis. Se isso vier a acontecer mesmo, será uma amarga traição¿, afirmou Rosinha, em nota enviada ao GLOBO.

Governador anuncia recadastramento

O governador rebateu as declarações de Rosinha:

¿ A disputa aqui não é por slogan. O importante é atender bem ao cidadão. O projeto da secretária Benedita da Silva não é acabar com o atendimento à população. A nomenclatura muda, mas o serviço continua. Essas pessoas serão incorporadas ao Bolsa Família que é o Cheque-Cidadão com outro nome. O problema não é de marketing, e sim resolver o problema das famílias. O presidente Lula me disse que existem no Rio 450 mil pessoas atendidas pelo Bolsa Família e quer dobrar esse número. Hoje cerca de cem mil recebem o Cheque Cidadão. Todos serão recadastrados para analisar a real necessidade e incluídos no Bolsa Família.

Benedita disse que sua equipe já está levantando dados do programa estadual para cruzá-los com os do Bolsa Família e saber se há pessoas recebendo os dois benefícios. O trabalho não tem previsão para ser concluído. O secretário municipal de Assistência Social, Marcelo Garcia, acredita que podem ser descobertos inúmeros casos:

¿ Ao contrário do Bolsa Família, onde o controle é bastante eficiente, sequer existe cadastro no Cheque-Cidadão. Ele é entregue às igrejas, que redistribuíam o benefício.

Uma prova de que os benefícios podem estar sendo acumulados foi uma consulta feita pela prefeitura durante a inscrição de jovens em projetos educacionais de um centro de cidadania recém-inaugurado no Complexo do Alemão. Em apenas um dia, foram detectadas cinco famílias que recebiam o Bolsa Família e o Cheque-Cidadão.

¿ É preciso unificar o benefício de transferência de renda e aplicar o valor restante em outros projetos que promovam a inclusão social ¿ afirmou Garcia.

Desempregada, a moradora do Complexo do Alemão Ana Cláudia Conceição Machado, de 37 anos, teme o fim do Cheque-Cidadão, o auxílio de R$100 por mês que recebe para comprar gêneros alimentícios e de higiene pessoal. Ela também ganha o Bolsa-Família, mas apenas no valor de R$15, já que só tem um dos três filhos em idade escolar e matriculado na rede pública:

¿ É um dinheiro que vai fazer muita falta. Dava para a gente se manter por quase duas semanas ¿ comentou Ana Cláudia, que pegava o benefício em uma igreja evangélica da comunidade.

Para evitar uma repercussão negativa do fim do Cheque-Cidadão, a secretária Benedita da Silva afirmou que o estado poderá complementar com recursos próprios a diferença de quem recebia o benefício e será migrado para o Bolsa Família.

O programa federal tem uma escala de pagamento que vai de R$15 a R$95, conforme o nível de pobreza e o número de filhos em idade escolar da família. Já o Cheque-Cidadão concedia um benefício único de R$100 mensais. Era preciso ter filhos menores de 14 anos matriculados em escolas e a carteira de vacinação das crianças em dia.