Título: Estragos das chuvas no bolso
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 11/01/2007, Economia, p. 21

Com mau tempo, preço de verduras e legumes sobe até 62%. Produtos começam a faltar

Os reflexos das fortes chuvas nas regiões Serrana e Norte-Noroeste do Estado do Rio já estão sendo sentidos pelos consumidores nos supermercados do Rio. Com altas superiores a 100% no atacado, diversos legumes e verduras chegaram ao varejo com aumentos nos preços de até 62,5% esta semana em relação à anterior. De acordo com redes varejistas, alguns produtos também começam a faltar nas gôndolas devido à interdição de estradas no interior do estado.

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação Getulio Vargas (FGV) também confirmam os preços maiores nos supermercados do país, sobretudo, nas regiões Sul e Sudeste. Segundo José de Souza, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, a alta nos preços dos itens ganhará força a partir de amanhã, quando os estoques das redes varejistas estarão chegando ao fim. No atacado, o reajuste médio deve variar de 10% a 20% e, no varejo, os preços podem subir cerca de 40%.

¿ A demanda já está maior que a oferta. As Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa) já começam a ter falta de itens porque os produtos são de alta perecibilidade. Até o momento, os preços maiores são verificados nas folhagens como alface, agrião e rúcula. Por outro lado, itens importantes e mais caros como batata inglesa e cebola ainda não aumentaram. A solução é que o consumidor compre o menos possível para conter altas abusivas no preço ¿ afirmou Souza.

O efeito climático também já pode ser sentido nos índices de inflação. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), entre 8 de dezembro e 7 de janeiro, registrou variação de 2,08% no país. Na capital do Rio de Janeiro, que importa metade do seu consumo, a alta foi maior e chegou a 4,13% no período. A cenoura foi o vilão da primeira semana deste mês, com aumento de 37,97% no preço.

¿ A primeira semana de janeiro pressionou o índice nacional, já que em dezembro a alta foi de 1,54%. As chuvas prejudicaram as plantações em todo o Estado do Rio. Belo Horizonte e São Paulo também registram preços maiores. A inflação pode sofrer forte pressão nas próximas semanas, caso a batata inglesa e tomate, que têm peso maior na composição do índice, tenham aumento de preço ¿ disse André Braz, coordenador dos IPCs da FGV.

Confederação alerta para efeitos em grãos e leite

A CNA ainda alerta sobre os impactos do mau tempo na safra de grãos (soja, milho e arroz) que começa a ser colhida em fevereiro. Segundo Rosemeire dos Santos, professora- técnica da CNA, a chuva dificulta o uso de fungicidas nas plantações, prejudicando a colheita e reduzindo a qualidade dos grãos.

¿ O mau tempo aumenta os custos de logística para o produtor. A pecuária de leite não sofre com a chuva, mas é prejudicada com a má condição das estradas. Por enquanto, não há aumentos no preço do leite, mas seu escoamento fica comprometido ¿ alerta Rosemeire.

No Prezunic, com 27 lojas no Rio, itens como rúcula, agrião e brócolis já estão em falta. Os estoques de cenoura, quiabo, vagem e chuchu já estão acabando, e os produtores, segundo Genival de Souza Bezerra, diretor da rede, estão com dificuldade de escoar sua produção. Na companhia, a batata doce passou de R$1,60, na semana passada, para R$2,60 esta semana, alta de 62,5%. O preço do pepino aumentou de R$1,50 para R$2 (variação de 33%) no período. A cenoura subiu 30%, de R$1,30 para R$1,69.

¿ Como a reposição dos produtos é diária, os preços oscilam muito. Com as chuvas, a variação foi acima do normal. Os fornecedores já estão alertando para mais aumentos. A partir de amanhã, os reajustes serão maiores. Estamos segurando os aumentos de alguns produtos para não pesar no bolso do consumidor. Com o mau tempo, cai a qualidade dos produtos. Hoje, estaremos fazendo promoção nos preços da batata inglesa e cenoura para aliviar os aumentos dos outros itens ¿ afirma Bezerra.

O secretário estadual de Agricultura, Abastecimento e Pesca, Christino Áureo, disse que a Ceasa já está recebendo menos produtos. Segundo ele, os preços ainda não subiram muito devido ao efeito substituição de alimentos. Mas a Ceasa registrava ontem altasde 100% nos preços de pé da alface, que passou de R$0,45 para R$1; rúcula (de R$1 para R$2, a unidade); e cenoura (de R$0,70 para R$1,30), entre as duas últimas semanas. O caixa do tomate passou de R$12 para R$40 no período, uma alta de 233%.

Enquanto isso, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) prevê mais chuvas intensas, entre quarta-feira e sábado da próxima semana no Rio.