Título: Varig antiga é investigada por privilégios
Autor: Almeida , Cássia
Fonte: O Globo, 11/01/2007, Economia, p. 24

Ministério Público do Trabalho apurará denúncia de que executivos receberam rescisão adiantada de até R$150 mil

O Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou inquérito ontem para investigar privilégios que 20 diretores e gerentes da Varig antiga teriam obtido quando a empresa aérea já estava em processo de recuperação judicial, em abril do ano passado. Como informou anteontem o colunista Ancelmo Gois, esses diretores teriam recebido os valores das rescisões contratuais, a título de adiantamento, num momento em que milhares de funcionários da empresa estavam com os salários atrasados.

Um dos diretores teria recebido R$150 mil de indenização em abril, bem antes de ser demitido, em outubro.

¿ Isso fere os princípios da recuperação judicial de dividir os recursos de forma equânime. Eles foram privilegiados, quando mais 2.500 demitidos ainda estavam desempregados à espera da indenização. Além disso, esses diretores foram absorvidos pela Nova Varig ¿ disse o procurador Rodrigo Carelli, que cuida do caso.

Empresa demitiu mais 600 estáveis, diz Sindicato

O documento que está sustentando a abertura da investigação é um relatório do atual gestor judicial, que identificou a irregularidade. Os papéis da rescisão de um dos diretores fazem parte do processo.

O Sindicato Nacional dos Aeroviários enviou a documentação ao MPT. Segundo a presidente, Selma Balbino, que foi informada da sua demissão juntamente com mais de 600 funcionários que tinham estabilidade garantida por lei (os que estão próximos de se aposentar, gestantes, vítimas de acidentes de trabalho e sindicalistas), a culpa dessas irregularidades é da administradora judicial, a Deloitte Consultoria:

¿ Ela tem a obrigação de fiscalizar o uso do dinheiro e deixou passar isso.

A Deloitte, em nota, diz que as demissões são decisões dos gestores e que tem apresentado à Justiça os relatórios, ¿cumprindo rigorosamente todas as suas obrigações de fiscalização e informação¿.

A Nova Varig, consultada, informou que não teve qualquer gerenciamento sobre os pagamentos. A Varig antiga também se eximiu de culpa, declarando que assumiu a empresa em agosto depois do pagamento das rescisões. Informou também que verificou as irregularidades denunciadas numa auditoria e enviou o relatório à administradora judicial, a Deloitte.

COLABOROU Mirelle de França