Título: Amigos, amigos, negócios à parte
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Fonte: O Globo, 11/01/2007, Economia, p. 27

Crise no oleoduto Amizade, da Bielorrússia, expõe rusgas entre Rússia e ex-soviéticos

BERLIM. ¿Os negócios não estão mais subordinados às amizades¿. A frase, de Igor Maximyschew, da Academia de Ciências de Moscou, resume a mais recente crise do petróleo envolvendo a Rússia e uma das ex-repúblicas soviéticas, a Bielorrússia. Frente à recusa da Bielorrússia a pagar preços de mercado pelo petróleo russo, Moscou fechou o oleoduto Druschba, ou Amizade, na tradução para o português, o que suspendeu o fornecimento também para a União Européia (UE). Mas, ontem, depois de muita pressão da UE e de um telefonema entre o presidente russo Vladimir Putin e seu colega bielorrusso Alexander Lukaschenko, os dois países anunciaram que estão próximos de um acordo.

A Bielorrússia prometeu devolver 80 mil toneladas de petróleo que havia desviado e a Rússia retomará o fornecimento, desde que receba os preços exigidos.

Quinze anos depois do fim da União Soviética, a Rússia cortou o último cordão umbilical com um antigo satélite. Depois de Ucrânia, Geórgia e Azerbaijão, o país deixou de ajudar com petróleo barato também a Bielorrússia. No primeiro dia deste ano, o preço do gás russo aumentou em US$100 por mil metros cúbicos. E para o petróleo foi cobrada uma taxa de exportação de US$180 por tonelada.

¿ Todo mundo era contra o socialismo na Rússia e agora criticam quando as coisas acontecem dentro do modelo da economia de mercado ¿ disse ao GLOBO o analista Maximyschew.

A investida de Moscou teve resposta: o presidente bielorrusso Alexander Lukaschenko, que tem se mantido no cargo graças ao gás e petróleo baratos, passou a cobrar US$45 por cada tonelada do óleo que passa sob seu território. Agora, a cobrança da taxa poderá ser cancelada como parte do acordo.

O mais recente conflito da Rússia com um país de sua antiga área de influência abriu uma polêmica na Europa. Na Alemanha, 20% do petróleo refinado vem da Rússia. Hoje, a UE vai realizar uma reunião para discutir os riscos dessa dependência.