Título: Mercado descarta onda nacionalista
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Fonte: O Globo, 11/01/2007, O Mundo, p. 30

Bolsas têm dia tranqüilo em todo mundo. Na Venezuela, alta foi de 5,76%

Um dia após o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciar a intenção de reestatizar as empresas dos setores de telecomunicações e energia, o mercado financeiro global teve um dia tranqüilo, com a média de risco dos emergentes ¿ que indica a confiança dos investidores estrangeiros nessas economias ¿ em queda de 1,11%, para 177 pontos centesimais. Os investidores descartam um eventual contágio de países em desenvolvimento como o Brasil pela ¿onda nacionalista¿ de Chávez.

Os temores de uma reestatização acabaram ficando restritos ao mercado venezuelano, que ontem recuperou parte das perdas da véspera. A bolsa da Caracas avançou 5,76% ontem, após cair 18,66% no dia anterior, puxada justamente pela desvalorização dos papéis dos setores de telecomunicações e energia. A taxa de risco da Venezuela ¿ calculada pelo banco americano JP Morgan, que também acompanha outras 16 nações emergentes ¿ recuou 0,90% ontem, para 219 pontos centesimais.

¿ O ¿efeito Chávez¿ teve um impacto limitado sobre os emergentes. Embora tenha causado um grande desconforto entre os investidores, ninguém cogita hoje a possibilidade de que o Brasil, por exemplo, adote postura similar. Os maiores prejuízos deverão ser mesmo da própria Venezuela ¿ avalia Ronaldo Guimarães, sócio da Cenário Investimentos.

O índice Merval, da Bolsa de Buenos Aires, subiu 1,49%, depois de cair 2,70% na véspera, sob os efeitos não apenas da surpresa com a nacionalização na Venezuela, mas principalmente pela queda nas cotações do petróleo. Ontem, a taxa de risco da Argentina ficou em 225 pontos, um recuo de 1,75%.

No Brasil, o anúncio das medidas surtiu pouco efeito. Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 0,78%, após cair 1,92%, influenciada não pelo discurso nacionalista de Chávez, mas pela forte queda nos preços das commodities no mercado internacional, já que as empresas com maior participação na Bovespa, como Vale do Rio Doce e Petrobras, são exportadoras de matérias-primas.

Walter Molano, sócio do BCP Securities, banco de investimentos americano especializado em América Latina, tem uma visão menos otimista. Como o populismo de Chávez faz eco com o discurso de países como Bolívia e Equador, se o movimento se intensificar, os investidores internacionais podem passar a ¿pensar duas vezes antes de investir na América Latina¿.

¿ (A reestatização) é uma medida fadada ao desastre ¿ avalia Molano.