Título: Daniel Ortega assume cortejado tanto por Bush quanto por Chávez
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Fonte: O Globo, 11/01/2007, O Mundo, p. 31

Presidente da Nicarágua recebe oferta dos EUA e assinará acordo com Venezuela

NICARÁGUA. Cortejado por Estados Unidos e Venezuela, o ex-guerrilheiro sandinista Daniel Ortega assumiu ontem pela segunda vez a Presidência da Nicarágua, 17 anos após perdê-la nas urnas. Horas antes da posse, uma comitiva americana apresentou a intenção de Washington de trabalhar com o novo presidente, que, por sua vez, assina amanhã um acordo de cooperação de energia com o venezuelano Hugo Chávez.

O presidente venezuelano é um dos 14 chefes de Estado e de governo que compareceram à posse, como o recém-eleito Rafael Correa, do Equador, e o colombiano Alvaro Uribe. Mas, além da cerimônia, parece que Manágua pode se tornar palco também da disputa de poder entre EUA e Venezuela.

Ajuda de Chávez durante a campanha eleitoral

Nos anos 80, Ortega instaurou um governo socialista que governou o país com mão-de-ferro e que tinha os EUA como inimigos. Mas antes mesmo de voltar ao poder, suavizou seu discurso em relação a Washington, reconciliou-se com a Igreja Católica e prometeu trabalhar com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

¿ Nosso compromisso é com o trabalho, a paz e a reconciliação ¿ disse Ortega na véspera da posse.

Nesse mesmo dia, Ortega recebeu uma promessa de ajuda do governo de George W. Bush, com quem havia conversado por telefone na segunda-feira. A oferta foi apresentada pelo secretário de Saúde dos EUA, Michael Leavitt, que assegurou ao presidente que Bush deseja ¿manter a boa relação¿ com a Nicarágua. Manágua recebe desde o ano passado uma ajuda de US$175 milhões dos EUA.

Ortega ressalta seu desejo de boas relações com os EUA, mas seus principais aliados são Chávez e o boliviano Evo Morales ¿ ferrenhos críticos do governo americano. Outro desafeto dos EUA, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, visita a Nicarágua nos próximos dias.

Amanhã, um dos primeiros atos de Ortega como presidente será assinar com Chávez um acordo de cooperação de ¿dimensões milionárias¿, segundo a embaixada venezuelana, relativo a energia elétrica e petróleo, superior ao que a Venezuela tem com Cuba e Bolívia.

Chávez ajudou Ortega em sua campanha eleitoral, enviando combustível para prefeituras sandinistas para uso no transporte coletivo e na geração de energia, enquanto o candidato acusava o governo pelos apagões e pelo aumento das passagens de ônibus.

Deputados advertiram Ortega anteontem a ¿não se deixar levar por inclinações totalitárias, nem retroceder no processo democrático iniciado em 1990¿.