Título: Racha na oposição
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 12/01/2007, O Globo, p. 2

A decisão anunciada pelo líder do PSDB, Jutahy Magalhães Junior (BA), de apoio à candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), vai além da disputa pela presidência da Câmara. A divisão da oposição é uma boa notícia para o presidente Lula. O PFL ficou pendurado na candidatura do atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), enquanto o PSDB aderiu à do PT.

A falta de sintonia entre tucanos e pefelistas aponta para um ambiente de tranqüilidade no Congresso para o governo. O PFL se sente traído pelos tucanos, que, neste ritmo, também devem acabar nos braços da candidatura do governo no Senado, a do presidente Renan Calheiros (PMDB-AL). O PFL morde, o PSDB assopra. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), reagiu com irritação quando foi informado, pelo líder tucano, sobre a decisão. Maia avalia que, ao fortalecer o PT paulista, o PSDB está ajudando a criar um pólo de poder para a sucessão do presidente Lula.

A decisão também cria problemas internos para o PSDB. Mesmo que a maioria do partido apóie esta decisão, muitos a criticaram. O deputado eleito Paulo Renato Souza (PSDB-SP), que ontem enviou uma carta para toda a bancada defendendo o lançamento de uma candidatura alternativa a Aldo e a Chinaglia, está indignado e quer convocar uma reunião da bancada para rediscutir este apoio.

¿ Que palhaçada. O líder, que não vai mais ser líder, anuncia a posição do partido na praia. Nós saímos do PMDB por causa do autoritarismo. Hoje, até o PMDB faz reunião para decidir e nós não ¿ critica.

O episódio revela que a oposição está dividida sobre o que fazer diante do governo Lula. O PFL, que elegeu apenas um governador, quer fazer uma oposição cerrada. O PSDB, que elegeu seis governadores, vai adotar, neste início de segundo mandato, uma postura mais branda. Isso mostra que já não existe no país o clima radicalizado e beligerante dos últimos dois anos. Outros tempos. Enquanto a oposição bate cabeça, o PT se reorganiza e vai avançando em seu projeto de retomar espaços que havia perdido durante a crise do mensalão. A reconquista da presidência da Câmara dará ao PT uma trincheira poderosa para lutar contra a redução de seus espaços no governo, em favor dos aliados, e para voltar a comandar ministérios estratégicos, como o da Saúde e o das Cidades.