Título: PSDB se junta ao PT. Por cargos
Autor: Camarotti, Gerson e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/01/2007, O País, p. 3

Tucanos aderem a Chinaglia na disputa pela Câmara em troca de comando de Assembléias

Opetista Arlindo Chinaglia (SP), líder do governo Lula na Câmara, recebeu ontem o apoio oficial do PSDB e consolidou o favoritismo de sua candidatura para a presidência da Casa contra o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que tenta a reeleição no cargo. Interessados em vários acordos com o PT, tucanos de peso como os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) deram sinal verde para que os deputados do partido antecipassem ontem a adesão a Chinaglia. Apesar de PSDB e PT serem adversários históricos ¿ e de a decisão marcar o distanciamento dos tucanos do PFL, que apóia Aldo ¿ o acordo foi feito porque inclui cargos, entre eles o comando das Assembléias da Bahia e de São Paulo e a vice-presidência da Câmara para o PSDB, que teria o apoio de petistas nos estados.

Com o aval dos governadores, o líder tucano Jutahy Magalhães Junior fez uma consulta relâmpago por telefone, na qual, dos 66 deputados do PSDB, 90% se manifestaram a favor do respeito ao ¿critério da proporcionalidade¿, segundo o qual o maior partido teria a preferência de indicar o presidente da Câmara. Foi a saída política encontrada para justificar a decisão, apesar de o PT ser a segunda maior bancada da Câmara, com 83 deputados, e não a primeira, já que o PMDB tem 89 deputados. Na terça-feira, o PMDB já tinha anunciado o apoio a Chinaglia.

Oposição racha, com PFL e PSDB em lados opostos

Com a decisão das três maiores bancadas, o líder do governo tirou sua candidatura do isolamento da base e rachou a oposição. A avaliação no grupo de Chinaglia é que isso deve motivar, na próxima semana, o anúncio do apoio de partidos como o PP, PTB e PR (ex-PL).

¿ Agora a minha candidatura passa a ser não do PT, não da base ou da oposição; serei o presidente da Casa ¿ disse Chinaglia.

O acordo político fechado ontem deve beneficiar o PSDB em vários estados. Em Minas, o governador Aécio Neves conseguiu um dos postos mais cobiçados da Câmara para um de seus mais fiéis aliados: o cargo de primeiro vice-presidente para Nárcio Rodrigues (PSDB-MG). Na Bahia, Jutahy Junior acertou com o PT a eleição do deputado tucano Marcelo Nilo para a presidência da Assembléia Legislativa. Em São Paulo, o governador José Serra também espera o apoio petista para comandar a Assembléia.

Para evitar constrangimentos, Serra desmarcou ontem um encontro que estava agendado com Chinaglia. O líder do governo foi o primeiro a negar o acordo e ressaltou que as questões regionais não foram negociadas.

¿ O PSDB não é trouxa de fazer esse tipo de troca. Isso é loucura. Não há força humana que faça questão nacional influir na questão regional. Isso é bobagem ¿ disse Chinaglia.

Aldo já tinha conseguido apoio de alguns caciques importantes do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Teotônio Vilela Filho (AL). Mas, para evitar pressões, Jutahy Magalhães resolveu, de quarta para ontem, fazer uma consulta só com os deputados, sem consultar a executiva nacional e os governadores tucanos.

Nome de petista não é consenso e abre crise

A opção pelo candidato petista, contudo, não era até ontem à tarde consensual e abriu uma crise no PSDB. Inconformados com a forma como a consulta foi feita, pelo telefone, alguns parlamentares planejavam pressionar a direção do partido para que a decisão só fosse formalizada depois de uma reunião da bancada no início da próxima semana.

¿ É um assunto muito delicado para ser tratado numa consulta de telemarketing. Além do voto, queremos expor nossa visão do processo. Posso assegurar que essa é a posição de mais de 20 parlamentares com os quais conversei ¿ disse o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que participou de almoço em apoio a Aldo.

O deputado eleito José Aníbal (PSDB-SP), também engajado na busca de votos para Aldo, dizia ontem que o partido deveria se perguntar o que a candidatura de Chinaglia oferece para ae recuperação da imagem do Parlamento:

¿ Liberação de emendas orçamentárias para aliados, oferta de cargos no Executivo e aumento de salário? Favores para o Legislativo?

Em nota, o deputado federal eleito Silvio Torres (PSDB-SP), que apóia o lançamento de um candidato da terceira via, disse que o acordo não reflete a decisão final de toda a bancada. O deputado federal eleito Paulo Renato (PSDB-SP) também foi contra a decisão da cúpula.