Título: Procurador suspeito de encomendar morte de colega
Autor: Cotta, Sueli
Fonte: O Globo, 12/01/2007, O País, p. 9

Acusado teve prisão domicilar decretada pelo TJ do Amazonas

BELÉM. O procurador de Justiça licenciado Vicente Augusto Cruz de Oliveira está em prisão domiciliar desde a última segunda-feira sob suspeita de ter encomendado a morte do também procurador Mauro Campbell Marques, de 43 anos. O motivo do crime seria a vaga de procurador-geral de Justiça do estado, disputada por ambos. A eleição está marcada para 15 de fevereiro.

O presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, desembargador Francisco das Chagas Auzier, decretou a prisão de Oliveira. O Ministério Público investiga o caso. Oliveira é acusado de ter contratado, por R$20 mil, um pistoleiro para matar Marques. O pistoleiro, um presidiário em regime semi-aberto, ao ver a foto de quem teria de matar, reconheceu o procurador e se assustou com a importância do cargo dele. Procurou um advogado, que encaminhou o caso ao Ministério Público.

O serviço de inteligência da Polícia Civil, sob ordem judicial, quebrou o sigilo telefônico do pistoleiro e do intermediário Élson Morales. A mulher de Morales foi presa anteontem, suspeita de envolvimento com o caso. Morales está foragido.

¿Aborta tudo aquilo. Aborta, aborta, aborta¿

Numa das gravações interceptadas, o procurador liga para o intermediário depois de ter telefonado para Marques, em sinal de solidariedade por conta das ameaças. O procurador licenciado teria pedido a Morales que abortasse a operação: ¿Olha, aborta tudo aquilo. Aborta, aborta, aborta¿. Morales responde: ¿Pior que o pessoal está na rua.¿ Oliveira reforça: ¿Aborta, aborta, aborta¿.

O procurador Mauro Marques está circulando por Manaus com colete à prova de balas e com quatro carros da polícia fazendo sua proteção:

¿ Minha preocupação permanece. Estou refém. O pistoleiro está na rua, o intermediário está solto. O que está por trás disso não sei, porque custo a acreditar que tudo seja por causa da vaga de procurador-geral.

Oliveira cumpre a prisão domiciliar no Ministério Público, numa sala ao lado do gabinete de Marques.

¿ Estou abalado. Não posso trabalhar porque ao lado tem uma pessoa que pode ter planejado minha morte ¿ diz Marques.

Preso no gabinete, o procurador licenciado atende a imprensa, conversa ao telefone e recebe pessoas. Reconhece ser sua a voz na conversa telefônica, mas disse que o conteúdo da gravação foi deturpado e negou que a conversa gravada tratasse de encomenda de assassinato.

¿ Não preciso matá-lo. Ele vai morrer nas eleições normais. Será a derrota dele, que está sendo injusto comigo. Tudo não passa de uma armação política ¿ disse o procurador a uma rádio amazonense.