Título: Rio Paraíba perto do nível crítico em Campos
Autor: Balbi, Aloysio e Vasconcelos, Fábio
Fonte: O Globo, 12/01/2007, Rio, p. 14

Ministro anuncia construção de ponte e contorno na BR-101 para desviar tráfego pesado do Centro da cidade

CAMPOS. O Rio Paraíba do Sul em Campos continua oscilando entre as cotas 9 e 9,60, bem próximo da crítica, que é a 10,20. A cidade, segundo a Defesa Civil, tinha ontem sete mil pessoas desabrigadas. No momento, a área mais castigada é a de Ururaí, onde dezenas de casas estão submersas. O prefeito Alexandre Mocaiber disse que mais de oito mil casas em áreas de risco foram inundadas e terão que ser interditadas. Ele estima os prejuízos no município em R$400 milhões.

A preocupação ontem era a chegada ao Rio Paraíba das águas do Rio Muriaé, que subiram e provocaram enchentes em Laje do Muriaé, Itaperuna e Cardoso Moreira. A Defesa Civil de Campos está monitorando o Rio Muriaé e espera que as águas cheguem ao Paraíba na tarde de hoje.

¿ Temos que torcer para que a maré na foz do Rio Paraíba, em Atafona, continue baixa e a vazão aumente. Dessa forma, a cota pode descer para o nível 8, e assim teremos condições de suportar mais essa carga, sem novos alagamentos ¿ disse o subsecretário de Defesa Civil de Campos, Henrique Oliveira.

Itaperuna decreta situação de emergência

Em Itaperuna, o prefeito Jair Bittencourt decretou ontem situação de emergência. O Rio Muriaé invadiu cinco bairros, incluindo o Centro. Mais de duas mil pessoas estão desalojadas, mas esse número pode crescer. A situação preocupava ontem também o prefeito Renato Jacinto, de Cardoso Moreira, por onde passa o Rio Muriaé.

¿ Estamos em estado de alerta ¿ disse o prefeito.

O nível do Rio Muriaé estava ontem na cota de 5,5 metros, 1,5 acima do normal. Cerca de cem famílias já foram retiradas de suas casas. A orientação da prefeitura é para que as pessoas em áreas de risco se alojem em casas de parentes ou amigos.

Em Campos, o tráfego entre as duas partes da cidade cortadas pelo Rio Paraíba continua caótico. Somente uma ponte, a da Lapa, está aberta ¿ e assim mesmo somente para veículos leves, obedecendo a um rodízio de placas. Hoje, a prefeitura começa a pôr em prática uma solução paliativa, que é reativar uma antiga ponte férrea sobre o rio. Já chegou à cidade uma locomotiva com três vagões, com capacidade para transportar 450 pessoas. A idéia é que sejam feitas várias travessias por dia.

A Ponte General Dutra, cujos pilares cedeu no sábado, continua fechada. Já a Ponte Barcelos Martins está aberta somente a pedestres e ciclistas.

O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, visitou a cidade ontem, acompanhado do vice-governador Luiz Fernando Pezão e do secretário estadual de Transporte, Júlio Lopes. Ele anunciou a construção de uma nova ponte, de 1.500 metros. Segundo Passos, a licitação já foi feita. O ministro anunciou ainda o projeto de um novo traçado para a BR-101, com mais 25 quilômetros, para tirar todo o trânsito pesado da área urbana de Campos. Ele disse estar sendo concluído o processo licitatório que vai permitir o desenvolvimento do projeto, cuja conclusão deverá ocorrer ainda este ano. A obra deverá custar R$90 milhões.

Passos não se arriscou dar prazo para o início da obra, chamada de Contorno Rodoviário.

¿ É uma obra de grande porte e que resolverá definitivamente o problema de Campos, que não suporta mais esse trânsito de carretas passando pelo Centro da cidade.

Avaliação de estragos depende de rio baixar

Com a obra, a BR-101 deixará de cortar Campos. O tráfego entrará no contorno na altura de Ibitioca, no Km 78 da BR-101, e sairá no Km 46, em Travessão.

O primeiro ponto atingido pelas enchentes visitado pelo ministro foi a Ponte General Dutra, a mais importante de Campos. Passos disse que será preciso esperar que o Paraíba baixe à cota 7, para se avaliar o grau de comprometimento da estrutura da construção:

¿ Acreditamos que é possível recuperá-la, erguendo pontos de afundamento com máquinas hidráulicas. Caso o comprometimento seja total, outra ponte terá que ser erguida.

O ministro também sobrevoou de helicóptero a BR-356 no trecho entre Campos e Itaperuna, onde a força do Rio Muriaé rasgou o asfalto em dois pontos. Ele determinou que o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit) inicie as obras de recuperação da pista, mas para isso também será necessário que o nível do rio baixe. A recuperação deverá durar 30 dias, mas uma variante para o trânsito poderá ser aberta.

Já o secretário Júlio Lopes disse que a ponte que o estado está construindo sobre o Paraíba do Sul deverá ficar pronta entre 40 e 50 dias, mas as obras só poderão ser tocadas a todo o vapor quando o nível do rio baixar. Segundo o governador Sérgio Cabral, Pezão e o DER darão prioridade à obra.