Título: Vale mais do que pesa
Autor: Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 12/01/2007, Economia, p. 23

Rio produz moda de maior valor de venda, que aumenta exportações do estado

Aindústria fluminense de confecções está na moda. Literalmente. Foi investindo nesse nicho que o produto feito no estado ganhou destaque dentro e fora do país, e transformou o que é fabricado aqui em algo mais do que roupa: em moda, o que significa ter produtos de maior valor de venda. O resultado de um trabalho que começou a partir de iniciativas como o Fórum de Moda, em 2001, e que culminou na criação do Fashion Rio, em 2002, e do Fashion Business (bolsa de negócios do setor de moda), em 2003, é visto em outros números: o Rio já é o terceiro maior exportador de moda do país.

O Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) buscou o cálculo do valor do quilo de um produto produzido no Rio, em comparação com o feito no Brasil. A conta mostrou que um quilo de produto do vestuário fluminense foi vendido em 2006 por US$59,69, enquanto na média do país custava US$22,13.

¿ A conclusão é que o Rio consegue estabelecer uma relação de valor para seu produto diferente do que acontece no Brasil. Isso indica que a moda difere do vestuário quando há um valor intangível ¿ diz João Paulo Alcântara, assessor do centro.

Da primeira edição até a última, em meados de 2006, o Fashion Business recebeu 398 compradores internacionais. Segundo Alcântara, a produção de vestuário de moda deixa o estado menos vulnerável ao ¿efeito-China¿.

Os produtos feitos no Rio são vendidos para 57 países. O estado tem oito pólos de confecções, que empregam 51 mil pessoas. Toda a cadeia produtiva ¿ que inclui fornecedores como os de embalagens ¿ gera 92 mil postos de trabalho, tornando o setor o terceiro maior empregador do estado.

Bordados de Niterói para o exterior

A próxima edição do Fashion Business, que começa terça-feira, na Marina da Glória, dois dias depois da abertura do Fashion Rio, terá 80 expositores e 150 compradores. Na edição outono-inverno, em janeiro de 2006, foram fechados negócios de R$304 milhões para o mercado interno e de US$11 milhões em exportações. A expectativa é de um aumento de 10% a 15% nas vendas.

¿ O Fashion Business e o Fashion Rio desencadearam um movimento que tornou o estado um grande gerador de empregos no setor de moda. Tudo começou há cerca de dez anos, quando foi feito um trabalho para identificar as potencialidades do Rio ¿ afirma o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvea Vieira.

A estilista e bordadeira Gisele Barbosa faz parte do grupo de profissionais que integra o pólo de Niterói, um dos oito do estado que se destacam no Fashion Business. Gisele expõe há dois anos na bolsa de negócios e, nesta edição, fará parte de uma mostra especial de novos talentos. O trabalho, iniciado nos anos 90, dá emprego a mais de 200 bordadeiras em Niterói, São Gonçalo, Volta Redonda e Pouso Alto (MG). Gerou também a venda de produtos para a Itália e uma parceria com representantes americanos para participar de uma feira em Atlanta. A primeira venda para o Japão, em 2006, chegou a duas mil peças.

Para Gisele, o investimento em um trabalho de qualidade, com prazo de entrega e dentro dos padrões de venda exigidos, é fundamental:

¿ No pólo, recebemos orientações de como proceder para atender às exigências internacionais.

Para atrair compradores, a Firjan subsidia a vinda de expositores, selecionados por um comitê.

¿ Percebemos que a iniciativa fez com que estes compradores selecionados voltassem por conta própria, renovando pedidos. Nesta edição, vamos dobrar o número de expositores subsidiados de 15 para 30, com a expectativa de ter mais de cem compradores internacionais. Nossa meta é expandir a base de exportadores, oferecendo orientação para que possam se desenvolver, ter uma gestão profissional que ofereça condições de competir no mercado interno e de participar de feiras internacionais ¿ diz Alcântara.

Rita Tardin, dona da Tardene Lingerie, em Nova Friburgo, optou por vender preferencialmente para o mercado interno, e sempre participa do Fashion Business. Com 26 funcionárias, a fábrica produz 20 a 25 mil peças por mês, desenhadas por Rita.

Segundo Cristiane Andrade Alves, gerente executiva do Senai Moda, a mão-de-obra empregada na indústria de confecções do Rio tem 70% de mulheres com baixa escolaridade, e a preocupação é a manutenção desses empregos, intensificando o conceito de moda autoral. Ela diz que os compradores nacionais percebem o diferencial e pagam mais pelo produto acabado. Novas concentrações de empresas estão sendo identificadas, afirma Cristiane. Entre elas, um grupo de bordadeiras da Baixada Fluminense.