Título: Na posse de Ortega, a festa é de Chávez
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 12/01/2007, O Mundo, p. 29

Presidente não esconde alegria com esquerda latino-americana e só lamenta ausência de Fidel

MANÁGUA. Mal tomou posse em seu terceiro mandato na Venezuela ¿ prometendo implementar o ¿socialismo do século XXI¿ -¿, Hugo Chávez viajou a Manágua, capital da Nicarágua, para a cerimônia de posse do esquerdista Daniel Ortega na quarta-feira à noite. Mantendo o costume, roubou a cena em frente a dezenas de milhares de nicaragüenses que acompanharam numa praça pública de Manágua a volta do ex-guerrilheiro marxista ao poder. Repetindo a mesma frase do discurso feito horas antes em Caracas, Chávez disse: ¿Pátria, socialismo ou morte!¿, antes mesmo de Ortega se pronunciar ao povo, em cerimônia que atrasou mais de duas horas (muitos acreditam que para esperar a chegada de Chávez).

¿ Estou aqui na Nicarágua com o coração repleto de emoção e júbilo. Trago o abraço infinito e profundo da revolução bolivariana ¿ disse Chávez, ao lado de dois outros líderes esquerdistas, o presidente da Bolívia, Evo Morales, e o recém-eleito do Equador, Rafael Correa, que toma posse dia 15.

O venezuelano só lamentou a ausência do convalescente líder cubano Fidel Castro, amigo pessoal de Ortega e Chávez, a quem Chávez enviou ¿um grande abraço¿.

¿ Fidel deve estar muito feliz (com a volta de Ortega ao poder) ¿ declarou.

Morales também desejou melhoras a Fidel, e exaltou a importância da volta de Ortega ao comando da Nicarágua. Ele e Chávez foram os únicos chefes de Estado, além de Ortega, que falaram ao público durante a cerimônia.

¿ Morte ao imperialismo americano! ¿ bradou o presidente da Bolívia.

Chávez vê Ortega, assim como Morales e Correa, como um aliado contra os EUA na América Latina. Mas o líder da Revolução Sandinista, que governou o país entre 1979 e 1990, prometeu em campanha não radicalizar o discurso, manter a estabilidade econômica e não realizar grandes mudanças na política econômica, com o objetivo de não espantar investidores.

No entanto, Chávez, que já anunciou uma série de mudanças ¿rumo ao socialismo¿ em seu próprio país, já enviou petróleo e fertilizantes a preços baixos à Nicarágua ¿ segundo país mais pobre do Hemisfério Ocidental, à frente apenas do Haiti. Em troca, foi o mais abraçado por Ortega durante a cerimônia da posse do ex-líder sandinista, que prometeu investir mais em educação e saúde e melhorar as condições de vida dos 80% da população que vivem com menos de US$2 por dia.