Título: Morales aceita maioria de 2/3 na Constituinte
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 12/01/2007, O Mundo, p. 29

Choques entre governistas e oposicionistas matam 2 e ferem 70 em Cochabamba

LA PAZ. Numa importante vitória da oposição, o Movimento ao Socialismo (MAS) do presidente da Bolívia, Evo Morales, cedeu terreno e concordou ontem com uma das principais reivindicações de seus adversários na Assembléia Constituinte.

Em vez de aprovar os artigos por maioria simples, como defendia o MAS, as novas regras constitucionais serão aprovadas por maioria de dois terços, como estava estabelecido pela lei original de convocação da Assembléia. A aprovação por maioria simples favorecia o partido de Morales, que teve a maior votação nas eleições parlamentares, mas não conseguira ¿ nem por meio de coalizões com aliados ¿ os dois terços necessários para dar à nova Constituição boliviana a forma que bem entendesse.

O anúncio da mudança de postura do MAS foi feito pelo vice-presidente Álvaro García Linera, mas o governo impôs uma condição: que a Constituição seja aprovada antes de 2 de julho, caso contrário o MAS voltará à sua antiga posição.

Em enfrentamentos entre oposicionistas e partidários de Morales no quarto dia consecutivo em Cochabamba houve dois mortos e cerca de 70 feridos. A cidade está sitiada por camponeses seguidores do presidente, que se opõem à decisão do governador do departamento de pedir mais autonomia em relação ao governo central de La Paz. Simpatizantes de Morales desde terça-feira bloqueiam os principais acessos à cidade, situada a 440 quilômetros de La Paz.

¿ Não tenho razão para renunciar, exijo que a vontade de meus eleitores seja respeitada ¿ disse o governador Manfred Reyes Villa, que insiste em convocar um novo referendo sobre autonomia regional, embora os eleitores de Cochabamba já tenham se manifestado contra nas urnas nas eleições do ano passado.

Até 2005 os governadores departamentais eram nomeados pelo presidente, e não eleitos. O MAS tem controle de apenas três dos nove departamentos (estados) da Bolívia. Entre os que se opõem ao presidente estão os mais ricos, como Santa Cruz, que produzem a maior parte da riqueza boliviana e temem perder recursos para o governo central de La Paz.