Título: Combates podem se intensificar
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/01/2007, O Mundo, p. 30

WASHINGTON. O plano do presidente George W. Bush de enviar dezenas de milhares de soldados americanos e reforços iraquianos a Bagdá para confrontar rebeldes sunitas e milícias xiitas provavelmente vai deflagrar uma fase ainda mais perigosa da guerra, podendo-se prever meses de combates nas ruas da capital iraquiana, advertem militares.

A perspectiva de uma batalha ainda mais intensa em Bagdá poderia levar comandantes americanos ao tipo de luta urbana que os estrategistas da guerra tentaram evitar durante a invasão em 2003. O plano de atuação conjunta pode forçar soldados americanos a contar, como nunca, com os questionáveis Exército e polícia iraquianos. E enquanto o presidente insiste em que não há cronograma associado ao aumento de tropas, oficiais militares dizem que manter isso além de alguns meses adicionará uma nova fonte de tensão aos soldados.

Acima de tudo, a insistência da Casa Branca em confrontar todos os tipos de insurgentes e milícias, sunitas e xiitas, pode significar que os americanos vão combater o Exército do Mahdi, do clérigo radical Moqtada al-Sadr. Alguns funcionários da inteligência americana calculam que a milícia chega a 60 mil combatentes, e algumas pessoas no Pentágono a consideram militarmente mais eficiente do que o Exército iraquiano. Um combate contra ela iria parecer uma luta em escala municipal do confronto que ocorreu esta semana na Rua Haifa, centro de Bagdá, em que os EUA usaram caças e helicópteros num ataque aéreo.

¿Haverá mais violência que o habitual devido ao aumento de tropas, e um aumento seguido de mais mortes ganha evidência no cenário internacional¿, disse um alto oficial do Exército. Sadr ¿terá que fazer uma escolha, e se ele se decidir pelo confronto, será significativo¿, acrescentou um integrante do Pentágono.

A última vez em que americanos combateram tanto sunitas quanto xiitas foi em 2004, uma das épocas mais difíceis da guerra. Comandantes americanos ficaram aturdidos ao enfrentar duas frentes, contra sunitas em Anbar e xiitas em Bagdá e no centro-sul do Iraque. Num bastião com cerca de dois milhões de xiitas no leste de Bagdá, as milícias de Sadr cercaram patrulhas isoladas e tomaram delegacias.

Um oficial do Exército que comandou um batalhão em Bagdá previu que o novo plano vai fracassar porque o premier Nuri al-Maliki e seu governo ¿vão tomar medidas para manter a proteção às forças de Sadr¿. Também descartou a noção do presidente de que o Exército e a polícia iraquianos, predominantemente xiitas, possam levar segurança a bairros pró-rebeldes sunitas.

Especialistas militares imaginam, ainda, como uma fileira de 17.500 soldados adicionais para Bagdá possa modificar a segurança numa cidade onde cinco milhões de habitantes são hostis à presença americana. ¿É muito pouco e é muito tarde¿, disse o coronel reformado Jerry Durrant, que treinou as forças iraquianas.

THOMAS E. RICKS e ANN SCOTT TYSON são jornalistas do Washington Post