Título: Bush tenta angariar apoio à nova estratégia
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/01/2007, O Mundo, p. 30

Presidente, Gates e Condoleezza fazem investida para obter respaldo nos EUA ao aumento de tropas no Iraque

WASHINGTON. Num esforço para convencer os americanos de que a situação no Iraque só vai melhorar se os Estados Unidos enviarem mais soldados para lá, o presidente George W. Bush foi almoçar ontem com militares que estão prestes a embarcar para a guerra. Por sua vez, o secretário de Defesa, Robert Gates, e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, enfrentaram tensas audiências na Câmara e no Senado, onde Gates, entre uma declaração e outra, anunciou que pretende aumentar em 92 mil homens o contingente do Exército (65 mil) e dos Fuzileiros Navais (27 mil) ao longo dos próximos cinco anos, para dar conta dos desafios atuais e futuros, incluindo o Iraque. Isso implicaria um gasto extra de US$15 bilhões anuais.

Reino Unido avisa que não enviará mais tropas

O resultado de tal esforço pode ser resumido pela última frase do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o democrata Joseph Biden, no encerramento da sessão:

¿ O que vimos hoje foi uma sensação que variou do ceticismo ao intenso ceticismo, e uma absoluta oposição à proposta do presidente.

Duas pesquisas de opinião respaldaram tal conclusão. Uma delas, feita pelo jornal ¿Washington Post¿ e a rede de televisão ABC, mostrou que 61% dos americanos são contra o envio de mais tropas. A outra, realizada pela agência Associated Press e pelo instituto Ipsos, mostrou que apenas 29% dos americanos aprovam a forma como Bush está encarando o problema no Iraque: 68% disseram que a desaprovam totalmente.

Um gesto significativo foi feito pela Grã-Bretanha, principal aliada de Bush nessa questão. O porta-voz do primeiro-ministro Tony Blair disse que embora ele apóie totalmente os esforços dos EUA, não aumentará o número de soldados britânicos. Pelo contrário, a idéia é transferir aos poucos ao Iraque a responsabilidade pela segurança no sul do país, onde estão todos os sete mil militares britânicos, e se retirar de lá de forma gradual.

O ministro de Defesa do Reino Unido, Des Browne, foi ainda mais enfático:

¿ A minha expectativa é a de que seremos capazes de encerrar esse processo ao longo dos próximos meses. Esperamos ver ainda este ano uma redução de nossas tropas em milhares de homens.

No almoço com soldados em Fort Benning, na Geórgia, Bush argumentou que o sacrifício deles era necessário:

¿ Não há dúvida de que a situação no Iraque é difícil. Ainda assim, é importante que nossos cidadãos entendam que um fracasso lá seria um desastre para o nosso futuro.

Gates não sabe por quanto tempo tropas ficarão

Gates, por sua vez, disse que não faz idéia de quanto tempo as tropas americanas ainda permanecerão no Iraque. E admitiu:

¿ O Iraque continuará sendo um lugar perigoso, pelo menos enquanto os americanos forem prisioneiros de alguém que quer amarrar uma bomba em seu próprio corpo e se explodir. Mas um fracasso lá não é opção para nós.

O depoimento de Condoleezza no Senado foi interrompido por um manifestante, gritando ¿Mentiras, mais mentiras; pare de mentir!¿, até ser retirado por policiais. Perguntada sobre o que o governo faria se a nova estratégia de Bush falhasse, ela saiu pela tangente:

¿ É má política especular sobre o que fazer se um plano falha quando você ainda está tratando de fazê-lo funcionar.