Título: Especialistas falam em acidente geológico
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Fonte: O Globo, 13/01/2007, O País, p. 8

Área onde ocorreu o desabamento é de transição de solo, com mais riscos de problemas em obras

SÃO PAULO. A região do desmoronamento que abriu uma cratera na futura estação Pinheiros do Metrô, em São Paulo, é uma área de transição de solo e, por isso, com mais riscos de acidentes em obras de túneis. Segundo Roberto Kochen, diretor do Instituto de Engenharia e professor da Escola Politécnica da USP, há duas formações geológicas diferentes no local: argila rija e rocha gnaise:

¿ Um acidente dessa dimensão pode ser uma combinação do risco geológico com outros riscos, como chuva intensa ou drenagem que não funcionou a contento. É uma região de transição de solo e, nas bordas de transição, sempre há mais riscos porque não há uma forma única de proceder à escavação.

Para o professor da USP, tecnicamente, a obra da Linha 4 é a que tem maior grau de dificuldade entre todas já feitas ou em andamento no Metrô de São Paulo. No local do acidente, diz Kochen, a escavação era feita manualmente, com operários operando escavadeiras. A área é um ¿poço de visita¿ (termo técnico), ponto em que os túneis da obra se encontrariam.

¿ O trabalho na Linha 4 é um pouco mais complexo que nas outras, em termos de engenharia. Primeiramente, toda a linha é subterrânea e, além disso, há as diferenças de solo ¿ explica o engenheiro.

Das cinco linhas do Metrô, só as linhas 2 (verde) e 4 (amarela) estão totalmente sob o solo. A linha amarela é a única que não tem qualquer trecho pronto. A inauguração da primeira estação estava prevista para 2008.

A tese de que problemas geológicos podem ter provocado o acidente é compartilhada pelo conselheiro especial da Associação Internacional de Túneis, André Assis. Para ele, algum problema não identificado durante as escavações da obra ¿ como infiltrações ou rochedos mal posicionados ¿ pode explicar a explosão, ouvida a quilômetros de distância do local do acidente. Pelas imagens que viu pela TV, o especialista acredita que o túnel construído sob as ruas de Pinheiros pode ter cedido, e isso fez com que as paredes do poço desabassem.

¿ Na maioria das obras subterrâneas há surpresas geológicas, algo que não estava identificado e que poderá se transformar num grande problema, principalmente nessa época de chuvas, como as infiltrações ¿ disse Assis, explicando que a explosão provoca uma sensação, para vizinhos do local do acidente, de um mini-terremoto, por causa da energia liberada.

Especialista em obras subterrâneas, Assis lembra que, em 2004, a parede de um poço cedeu e rompeu um trecho do metrô de Cingapura. Para o especialista, esses acidentes, em tese, são em geral provocados por falhas de avaliação no momento do planejamento da obra.

* do Diário de S.Paulo