Título: O chão balançou como se fosse terremoto¿
Autor: Frota, Marcel
Fonte: O Globo, 13/01/2007, O País, p. 9

Operários que trabalhavam na obra relatam os momentos de pavor durante e depois do desabamento

SÃO PAULO. Cerca de 40 operários trabalhavam na obra da Linha 4 do Metrô quando ouviram os primeiros estalos, por volta das 14h15m. Também perceberam rachaduras e saíram correndo do local. Meia hora depois, ocorreu o primeiro deslizamento, espalhando o pânico na área. Os operários viram os caminhões serem tragados pelo enorme buraco que se abria.

Por volta das 14h45m, o encanador Pedro Rodrigues Prata, 36 anos, trabalhava junto com um colega numa tubulação do túnel da futura Linha 4 do Metrô. Ele viu quando uma das armações de ferro que dão sustentação ao concreto na parte de cima do túnel desabou. Prata não sabia que estava prestes a enfrentar uma corrida contra a morte:

¿ Quando a cambota caiu, o chão balançou como se fosse um terremoto.

Ele e o colega se apressaram em fugir de dentro do buraco. Segundo Prata, naquele ponto da obra não havia ninguém na parte de baixo. O desfecho viria num segundo desabamento, este sim responsável pela abertura de uma cratera que engoliu quase um quarteirão todo. Ao falar de dois colegas, Prata ri tenso da lembrança que tem.

¿ Um dos motoristas abriu a porta do caminhão e foi escalando a terra conforme ela deslizava. Ele teve muita sorte, e foi muito forte porque conseguir sair ¿ afirmou ele.

O operador do guindaste de 50 toneladas enfrentou um drama isolado. Isso porque, no segundo e definitivo deslizamento, o aparelho sofreu um deslocamento brusco, que provocou guinada de quase 180 graus. Um dos blocos de concreto de cinco toneladas usado como contrapeso caiu. Prata afirma que na pressa, o operador acabou usando um cabo de aço para descer rapidamente do aparelho. Em choque, o homem foi levado para a sede da empresa.

Enquanto Prata presenciava o início do colapso naquele ponto da construção, outro trabalhador, o motorista Roque Udson, de 39 anos, tentava sair de dentro do túnel.

¿ Um grupo preparava para concretar a parte de baixo do túnel, e havia umas vinte pessoas ali. Foi quando o concreto rachou ¿ disse Udson.

Nesse momento, segundo ele, os trabalhadores foram orientados a deixar o buraco imediatamente. Dez minutos depois, o desabamento tomou proporções gigantescas.