Título: FH pede retirada do apoio do PSDB a Chinaglia
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 13/01/2007, O País, p. 10

`Meu candidato pode ser o mesmo que o do José Dirceu?¿, diz Virgílio, defendendo reunião da executiva do partido

BRASÍLIA. A formalização do apoio da bancada do PSDB na Câmara ao candidato petista à presidência da Casa, Arlindo Chinaglia(PT-SP), anunciada anteontem pelo líder Jutahy Magalhães Júnior (BA), provocou reações iradas e abriu uma crise entre os tucanos. O apoio foi dado em troca de cargos na Mesa da Câmara e nas assembléias legislativas da Bahia e de São Paulo. Irritado com a decisão, incentivada pelos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou nota criticando o apoio a Chinaglia. Chamou a decisão de precipitada e frisou que dá tempo para mudá-la. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), divulgou outra nota condenando duramente a articulação.

Outros tucanos, como o deputado eleito José Aníbal (SP), dizem que o acordo põe o PSDB de costas para a sociedade. Eles cobram a discussão do tema na executiva nacional do partido. Afirmam que a decisão decepciona milhões de brasileiros que esperam do PSDB uma posição oposicionista. O ex-ministro e deputado eleito Paulo Renato de Souza (SP) disse que não houve consulta de verdade.

¿ A alegada consulta feita por telefone pela liderança do PSDB não tratou especificamente do tema. No meu caso, um dos vice-líderes ligou ontem pela manhã para saber minha opinião sobre o processo de escolha ¿ disse.

Ex-presidente esteve com Aldo

Fernando Henrique disse que a decisão não levou em consideração as conseqüências do gesto, que pode ser revisto: ¿Ainda há tempo para as lideranças pensarem na opinião pública e nos milhões de brasileiros que esperam do PSDB uma posição construtiva, mas oposicionista, para que possamos manter a esperança de dias melhores¿.

Em sua nota, o ex-presidente conta que, nas férias de Natal, em Maceió, conversou com o presidente da Câmara e candidato à reeleição, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), sobre a possibilidade de o PSDB vir a apoiá-lo, já que não via possibilidade de o partido votar num candidato do PT, tradicional adversário. O encontro teria sido relatado a Serra e a Jutahy, que ignoraram as ponderações feitas na ocasião.

Na avaliação de Fernando Henrique, a cisão na base governista, pela lógica política, deveria abrir uma alternativa para a oposição, ampliando o ¿espaço para um diálogo político mais conseqüente na linha da independência do Congresso nas questões institucionais e do não comprometimento com tantas pizzas do passado recente¿.

Virgílio pede nova reunião

No mesmo tom, Virgílio diz que ¿o apoio do PSDB a Chinaglia, por suas implicações políticas, transcende o âmbito da decisão da liderança naquela Casa¿. Ele anunciou que está pedindo à executiva nacional do partido que convoque ampla reunião, com a presença das bancadas da Câmara, do Senado e das pessoas mais representativas do partido. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), concordou, depois de uma consulta pelo telefone, mas só deverá retornar ao Brasil no fim do mês.

¿ O partido tem de refletir se pode se coligar com Chinaglia. Ele é o candidato do José Dirceu. Meu candidato pode ser o mesmo que o do José Dirceu? Esse debate tem de ser reaberto pela executiva nacional ¿ insistiu Virgílio em entrevista.

Para o senador, a bancada da Câmara não poderia deixar de levar em conta a posição já anunciada por Fernando Henrique, presidente de honra da legenda.¿O deputado Chinaglia, como pessoa, poderia ter tranqüilamente o apoio do PSDB. Mas, hoje, infelizmente, a sua candidatura representa precisamente tudo aquilo contra o que votaram os nossos 40 milhões de eleitores: a reintrodução de Ricardo Berzoini no comando do PT, a futura anistia de José Dirceu, a absolvição dos ¿aloprados¿, dos sanguessugas e a negação do mensalão¿, ressaltou Virgílio em sua nota.

José Aníbal tentava ontem articular uma reunião da bancada tucana para a próxima terça:

¿ A repercussão foi péssima, colocou o PSDB de costas para a sociedade. O Jutahy tentou passar por cima da bancada.

O deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), do grupo do governador Serra, considera irreversível a decisão do partido.

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