Título: Viúva de milionário vai depor e é quase linchada
Autor: Moreira, Gabriela e Gomes, Marcelo
Fonte: O Globo, 13/01/2007, Rio, p. 16

Só tiros para o alto controlam multidão, que cercou delegacia e chegou a agredir a mulher com soco no rosto

O delegado Ademir Oliveira, titular da 119ª DP (Rio Bonito), disse ontem que vai pedir à Justiça a quebra dos sigilos bancário e telefônico e o bloqueio da movimentação financeira da ex-cabeleireira Adriana Almeida, de 29 anos, viúva do milionário Renné Senna. Após cinco dias de silêncio absoluto, a principal personagem da trama envolvendo o assassinato do ganhador de R$52 milhões na Mega-Sena prestou depoimento ontem na 119ª DP por cerca de seis horas. Ao sair da delegacia, uma multidão de curiosos, aos gritos de ¿assassina, assassina!¿ tentou linchar Adriana, que defendeu-se:

¿ Não sei quem matou (Renné). Eu sou inocente.

Em depoimento, Adriana negou ser a mandante do crime, ocorrido no último domingo, no distrito de Lavras, em Rio Bonito. Segundo o delegado Ademir Ferreira, a viúva disse acreditar que a morte de Renné tenha sido motivada por vingança, mas não apontou suspeitos.

¿ Ela afirmou que o crime pode ter sido cometido por alguém que pedia dinheiro a Renné, mas não conseguia pagar ¿ explicou o delegado.

Viúva se disse magoada com a família do milionário

Com relação às acusações da filha de Renné, Renata, de que ela seria a responsável pelo homicídio do milionário, Adriana disse à polícia que não compreendia as denúncias da enteada. Segundo a ex-cabeleireira, embora Renata não fosse sua amiga, a relação das duas era boa.

¿ Adriana disse que recebeu duas mensagens de Renata pelo seu celular desejando-lhe felicidades no Ano Novo ¿ revelou o titular da 119ª DP.

A viúva mostrou mágoa com relação à família de Renné e disse que era invejada na cidade por ter se casado com um milionário e ser bonita. De acordo com o delegado, ela mostrou segurança no depoimento, surpreendo os policiais. A polícia vai interrogar ainda os seis seguranças PMs da fazenda. Adriana ficou de entregar a lista dos seguranças à polícia na segunda-feira

Adriana e Renné estariam tentando ter um filho há cerca de um ano. Segundo disse cabeleireira em depoimento, esta era uma vontade do milionário, mas que eles não conseguiram, por motivos desconhecidos, porque eles não usavam preservativos e ela não tomava anticoncepcionais.

Perguntada pelo delegado sobre como era a relação entre os dois, Adriana disse que o Renné a amava muito. A cabeleireira não disse, no entanto, se ela o amava.

¿ Ela disse que eles tinham uma relação normal, mas que apesar de o Renné ser deficiente, ele era muito ciumento ¿ relatou Ademir.

Adriana negou que tivesse amantes, como acusara Renata, em depoimento.

¿ Eu recebi esta informação e vou investigar. Mas ela negou que o traísse e também que tivesse uma relação fixa com um dos seguranças ¿ disse o delegado.

O depoimento da viúva Adriana foi acompanhado por centenas de moradores de Rio Bonito e região. Quatro homens da Guarda Municipal e uma patrulha da Polícia Militar ¿ pedidos pelo delgado para controlar o tumulto ¿ foram insuficientes para conter as cerca de 500 pessoas que se aglomeraram no entorno da delegacia. Das janelas dos prédios no entorno, através do celular, pendurados em árvores e escadas, as pessoas aglomeraram-se na porta da delegacia para tentar fotografar a loura misteriosa.

Cabeleireira demorou 40 minutos para sair da DP

Depois de depor por cerca de seis horas, a cabeleireira ainda demorou 40 minutos para deixar a delegacia. Mesmo escoltada pelos PMs e por dois seguranças, Adriana chegou a levar um soco no rosto e só conseguiu ir embora depois que a polícia atirou três vezes para o alto e arremessou bombas com gás de pimenta. A cabeleireira foi levada para a fazenda em um carro da Corregedoria da Polícia Militar do Rio, segundo o delegado.

¿ Nunca acontece nada na cidade, isso tudo é uma grande novidade ¿ explicou Frederico Maia, de 20 anos.

¿ Eu vim para ver como é a cara dela. Já a procurei na internet, no Google, mas não encontrei. Queria ver se a conheço. Dizem que ela já morou perto da minha casa ¿ disse o auxiliar administrativo Cristiano Silva, de 20 anos.

Algumas pessoas chegaram a ir para casa buscar conhecidos e parentes. Outras, saídas do trabalho, tomaram banho, colocaram vestido de festa e voltaram para a delegacia.

¿ Eu não posso perder uma coisa dessas. É muita gente, tem repórter, motorista, fotógrafo. É o maior acontecimento de Rio Bonito ¿ disse Tereza Maciel.