Título: Lula deve ter conversa cuidadosa com Chávez
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 13/01/2007, O Mundo, p. 34

Planalto está preocupado com efeitos políticos da estatização, mas presidente não quer dar impressão de ingerência

BRASÍLIA. O governo brasileiro está mais preocupado com os efeitos políticos do processo de estatização que será desencadeado na Venezuela do que os econômicos ou comerciais. Isso porque, até o momento, existe a garantia de que a nacionalização dos setores de energia e telecomunicações não afetará investidores brasileiros instalados naquele país.

Fontes do Palácio do Planalto e do Itamaraty acreditam que dificilmente o equilíbrio geopolítico da região será afetado pelo socialismo do presidente Hugo Chávez. Há dúvidas, no entanto, quanto à preservação da democracia no país, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera ver dissipadas.

Embora as presenças de Lula e Chávez na posse do presidente eleito do Equador, Rafael Correa, estejam confirmadas, dificilmente conversarão sobre o tema em Quito. O mais provável é que acertem os ponteiros no Rio, durante a cúpula do Mercosul.

O presidente Lula, que está de férias no Guarujá (SP), prefere não se manifestar antes do encontro com Chávez. Mesmo porque faltam detalhes sobre o que vai acontecer na Venezuela.

¿ Não vamos discutir cada vez que um governo decide nacionalizar ou privatizar tal setor da economia ¿ disse o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, destacando que são ¿estreitas¿ as ligações com Caracas.

Mudanças devem ocorrer com base na democracia

A conversa que o presidente brasileiro terá com Chávez, disse uma fonte, será cuidadosa. Lula não quer passar a impressão de que estará interferindo em um assunto da competência exclusiva dos venezuelanos.

Essa é a mesma posição de presidentes de partidos de esquerda, como Ricardo Berzoini, do PT, e Roberto Amaral, do PSB. Ambos consideram que, não importa o que aconteça na Venezuela em termos de mudança de regime, tudo deve ocorrer com base nos princípios constitucionais e democráticos.

¿ Ainda é prematuro fazer uma avaliação, mas é bom lembrar que Hugo Chávez tem apoio popular. O que pensamos é que tudo deve ser trabalhado dentro do regime constitucional, preservando o estado de direito ¿ disse Berzoini.

Já Roberto Amaral enfatizou que o socialismo é uma opção ¿desejável¿ e que não vê mal algum no sistema ser implementado na Venezuela, desde que sejam usados instrumentos democráticos. Quanto ao risco de não cumprimento de contratos, em decorrência do processo de nacionalização, Amaral ressalvou:

¿ O respeito aos contratos independe de regimes. É a ordem jurídica mundial.

Em outra vertente, o presidente do PFL, senador Agripino Maia, fez um diagnóstico pessimista sobre a empreitada de Chávez. Em sua opinião, a Venezuela vai parar no tempo:

¿ A Venezuela é um país que sobrevive do petróleo. Se o preço do produto cair, Chávez não terá mais como governar.

Em Caracas, líderes da oposição venezuelana anunciaram uma nova onda de mobilizações contra as medidas anunciadas pelo presidente, que aumentam a sua concentração de poder. Além disso, a Sociedade Interamericana de Imprensa manifestou sua preocupação pela deterioração das liberdades ¿ após o governo anunciar que não renovaria a concessão do canal RCTV ¿ e solicitou à comunidade internacional que não permita um ataque à democracia.

Com agências internacionais