Título: Adversários no passado, aliados no presente
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 14/01/2007, O País, p. 8

Petistas fizeram pacto para recuperar influência política no Congresso

BRASÍLIA. Nos bastidores, José Dirceu tem grande influência no chamado núcleo duro da campanha do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), todo ele formado por petistas. Foi esse núcleo que bancou o nome de Chinaglia no primeiro momento, quando não havia consenso nem mesmo no PT.

O grupo é formado por parlamentares que foram excluídos do processo decisório da Câmara, depois de citados no escândalo do mensalão, como os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP), José Mentor (PT-SP) e Paulo Rocha (PT-PA).

Dirceu foi um dos principais articuladores da candidatura Chinaglia, quando havia resistência dentro do Palácio do Planalto, inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirceu resolveu fazer uma aliança pragmática com Chinaglia, seu antigo adversário dentro do PT: apoiaria sua eleição para o comando da Câmara na certeza de que retomaria influência política no Congresso.

Enfraquecido no núcleo do governo, o ex-chefe da Casa Civil viu em Chinaglia a chance de voltar a ocupar poder junto com seu grupo. De quebra, ainda pensa encontrar facilidades para tentar aprovar o seu ambicioso projeto de anistia, e com isso retomar os direitos políticos. Todos os petistas da ala mais próxima de Dirceu passaram a trabalhar pela campanha de Chinaglia num intenso corpo-a-corpo.

¿ Todos nós estamos ajudando. Eu estou com a missão de trabalhar os votos da Região Norte para o Chinaglia. Estamos aproveitando o potencial que cada um tem nas relações políticas para assegurar a vitória ¿ disse o paraense Paulo Rocha.

Mentor: ¿No PT, tudo tem uma vez. E a vez é do Arlindo¿

Para José Mentor, Chinaglia conseguiu a unidade do partido em torno de si. Ele lembra que, em 2005, o líder do governo havia sido preterido pela bancada para disputar a presidência da Câmara, quando perdeu a indicação para os deputados Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Virgílio Guimarães (PT-MG), ambos derrotados, na ocasião, por Severino Cavalcanti (PP-PE). Mas ele rebate o que chama de sentimento ¿anti-PT¿, já que Chinaglia tem sido criticado pelos apoios recebidos no partido.

¿ Antes, o Arlindo tinha sido derrotado no partido. Agora, ele conseguiu o apoio do PT quase que por unanimidade. No PT, tudo tem uma vez. E a vez é do Arlindo. Porém, esse sentimento antipetista e contra São Paulo é uma hipocrisia ¿ disse Mentor.

Procurado pelo GLOBO na sexta-feira, Dirceu não retornou ao pedido de entrevista.

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