Título: Na PF, Beltrame investigou polícia estadual
Autor: Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 14/01/2007, Rio, p. 14

Secretário afirma que não vai admitir vazamentos de informações

O secretário José Mariano Beltrame seguiu o caminho inverso para conhecer as polícias do Rio ¿ como ele costuma dizer, ¿de fora para dentro¿, referindo-se às investigações da Polícia Federal que coordenou. Entre elas está a Operação Tingüi, criada para levantar a ligação de PMs com o tráfico. A iniciativa levou a Justiça a decretar a prisão de 76 policiais, 40 deles lotados no 14º BPM (Bangu).

Especialista na área de inteligência, Beltrame avisa que não pretende estimular nenhuma caça às bruxas, mas não vai tolerar policiais envolvidos com bandidos, nem vazamentos de informações.

No novo organograma de sua pasta, inclusive, ele puxou para si a Corregedoria Geral Unificada (CGU) e a Ouvidoria, anteriormente na Secretaria de Direitos Humanos. Com o objetivo de evitar o corporativismo, o secretário chamou para a CGU o desembargador aposentado Gustavo Adolpho Kuhl Leite e, para cuidar da ouvidoria, o procurador Sérgio Wigderovitz.

Gaúcho de Santa Maria, Beltrame, de 49 anos, lembra-se da vida na roça, onde o cavalo era usado no arado e a charrete o meio de transporte da família. A lembrança serviu de inspiração para que planejasse um esquema de policiamento com PMs a cavalo no Rio.

O delegado cursou administração e direito, ingressando na Polícia Federal há 25 anos. Atuou nas áreas de repressão a entorpecentes e de inteligência. Chegou a morar na sede da Polícia Federal, na Praça Mauá, durante um ano e meio.

Nem na hora de relaxar, o delegado baixa a guarda. No ano passado, na porta do Canecão, depois de assistir ao show da cantora Marisa Monte, acabou intervindo num roubo de celular. O bandido se desfez do aparelho e, por estar armado, Beltrame foi confundido com o ladrão. Teve que se identificar como policial.

O secretário costuma fazer visitas de surpresa às unidades policiais e acabou tomando um susto com as péssimas condições do Instituto Médico-Legal (IML):

¿ Não sei como as pessoas conseguem conviver com certas coisas. Aquilo lá é Auschwitz. É o diretor fechando a porta enquanto cadáveres apodrecem na sala ao lado... É como se alguém estivesse na sala e, na cozinha, houvesse um pedaço de carne podre.