Título: Projetos do Brasil em Kioto: potencial para render US$181 milhões por ano
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 14/01/2007, Economia, p. 34

Iniciativas trazem divisas e contribuem para deter aquecimento global

O Brasil tem 84 Projetos certificados no chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), criado no âmbito do Acordo de Kioto - atrás apenas da Índia, com 125. Os empreendimentos já concluídos com o objetivo de reduzir os gases que provocam o efeito estufa correspondem à retirada de 128 milhões de toneladas de gás carbônico da atmosfera em sete anos, quase o que a Bélgica produz desses gases anualmente (147 milhões de toneladas). Além de contribuir para deter o aquecimento do planeta, essas iniciativas representam o ingresso potencial de US$181 milhões por ano.

- Estamos falando de realidade - acrescenta o coordenador geral de Mudanças Globais do Ministério da Ciência e Tecnologia e presidente do Conselho Executivo do MDL, José Miguez.

No total, o Brasil tem 198 Projetos em diferentes estágios de análise e que representam a não-emissão de 27 milhões de toneladas de gás carbônico por ano da atmosfera. Se forem aprovados e comercializados, ao preço médio de US$10 a tonelada, proporcionarão um ingresso de US$270 milhões por ano ao país.

- O ingresso potencial de divisas é considerável para o nosso balanço de pagamentos - acrescenta Miguez.

Nos dois primeiros anos de funcionamento do Acordo de Kioto, que entrou em vigor no início de 2005 para viabilizar a redução dos gases do efeito estufa, o Brasil vem sendo um dos países mais ativos. O MDL foi criado para permitir que empresas de nações em desenvolvimento que reduzem a emissão de gases transformem esses investimentos em créditos comercializáveis, que podem ser adquiridos por empresas ou nações desenvolvidas obrigadas a se tornarem menos poluentes.

Estimativa era de que China dominaria 80% do mercado

O Brasil termina o ano com 14% do total de 1.424 Projetos apresentados em Kioto, atrás da Índia, com 516, e da China, com 215. Dessas propostas, nem todas já foram certificadas. Em sete anos, as iniciativas poderão diminuir mais de dois bilhões de toneladas de gás carbônico lançadas na atmosfera, um quarto da produção anual da Terra. Os ecossistemas naturais só são capazes de absorver a metade desta produção, que provoca o aquecimento do planeta.

A emissão total do Brasil atinge 1,4 bilhão de toneladas por ano, 20º no ranking mundial. Quando considerado o desmatamento, o país pula para a quarta colocação.

Se aprovados, os 198 Projetos do Brasil vão representar a retirada de 25 milhões de toneladas de gás carbônico por ano, 10% do total mundial. Quando analisados apenas os 449 Projetos que já foram certificados pelo Conselho Executivo do MDL, sediado na Alemanha e formado por 20 países, o país está na segunda posição, atrás da Índia e à frente do México, com 70.

- A estimativa era de que a China dominaria 80% do mercado de MDL e a Índia, 15%. O Brasil ficaria com apenas 2% a 3% - afirma Ronaldo Seroa da Mota, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).

China e Índia seriam os maiores participantes porque, além de estarem crescendo em ritmo muito mais acelerado do que o Brasil, têm uma matriz energética mais suja, baseada em poluentes como o carvão e a lenha. Por isso, teriam oportunidades mais baratas de implementar os Projetos MDL.

Bolsa de Chicago já recebeu 220 Projetos

O movimento na Chicago Climate Exchange (CCX), dos Estados Unidos, também é uma indicação de que os negócios com créditos de carbono estão apenas começando, acrescenta o diretor da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Walfredo Schindler.

A bolsa de Chicago é um mercado independente de Kioto, cujas regras de operação são definidas por seus próprios membros. Por isso, é mais flexível quanto às exigências para credenciamento dos Projetos, permitindo a inclusão de empreendimentos que podem não se enquadrar em Kioto.

dos 220 Projetos inscritos em Chicago até o fim do ano passado, dez são Brasileiros. Num mercado tão dinâmico, a Rhodia do Brasil criou uma joint venture com a Société Générale para prestar serviços de consultoria a outras firmas interessadas, informa Sergio D"Amore, diretor Técnico Comercial de Mercado de CO2 da Rhodia no país.